António Gregório, colega de turma e mais fino do que o Chico, que tem a mania que é esperto, sempre se foi safando das trapalhadas
em que se metia, ou fazendo-se de vítima ou caindo em graça, sendo por vezes o
preferido da professora, quando quem tinha o verdadeiro sentido de humor era o
Manolo, alcunha do Ferreira, que sempre que a professora propunha uma visita de
estudo a Organizações com regras e bem sucedidas, ele propunha um passeio a
Vigo...o quanto o Ferreira gostava de espanholas, de caramelos e do falar alto
e estridente nos cafés, em que todos se atropelavam verbalmente.
Na entrega do último teste, Ferreira teve Suf –
(suficiente menos), que lhe criou um sorriso rasgado, pelo melhor nota do ano;
Chico tirou Suf - - ( suficiente menos, menos), finório como todos os seus
antepassados, riscou o - - (menos, menos), para mostrar à mãe uma boa nota; e o
Gregório não teve nem bom nem mau, teve uma nota dada pela primeira vez pela
professora Angela.
- Gregório, tiveste péssimo no teste.
- Se tive péssimo, a culpa não é minha professora. A
culpa é do Chico!
- Ui! – exclama a professora Angela e o Chico e a
professora prossegue – Como assim?
Como se já esperasse a pergunta, Gregório
dispara a resposta:
- Porque eu copiei a maior parte do teste pelo Chico. E
ele respondeu mal ás perguntas que eu copiei de propósito...só para me
prejudicar!
O Suf - - de Chico foi a sua pior nota deste ano. Chico
costuma copiar por Henrique, um miúdo loiro e olhos azuis, supostamente de boas
maneiras e regras, que beneficia Chico se este for buscar a bola, quando nas
futeboladas esta vai para longe. Chico passa grande parte do jogo a apanha-bolas do que propriamente a jogar.
Este facto criou desconfiança na turma e perante a dúvida
a professora corrigiu a nota de Gregório para Suficiente!
Gregório, mais fino do que o Chico, que é esperto, de
papo cheio, sem ar para o ter, e sorriso aberto, sem meia dúzia de dentes para
mostrar, acha-se o maior e desvairado pede:
- Professora, além da nota positiva eu quero 10 € para ir
comprar chocolates, para festejar.
- Ó Gregório, tu ainda não me deste os 5 €, que te
emprestei, para ires comprar gelados quando pediste a Catarina em namoro e ela
disse que ia pensar. Dois dias depois ela disse-te que não, mas isso não te dá
o direito de não me pagares e acumulares dívida.
- Acumular o que, professora?
...
Naquela escola, a vida continuou na normalidade que se
tinha transformado nos últimos anos, desregulada para uns, sem sentido para
outros e no caminho certo para dois ou três, até aquele dia, em que uma
directiva ministerial ordenava que todos os alunos e professora morressem ao fim de dois
dias.
Ao terceiro dia, toda a turma estava ainda por falecer,
porque o António Gregório, mais fino do que o Chico, que é esperto, teimava em
não morrer, dizendo:
- Não posso morrer, ainda tenho dívidas para saldar!