domingo, 1 de junho de 2014

Manicómio.

Se a maior parte das estórias que ouvia em pequeno, começavam por “Era uma vez…”,as minhas crónicas, ou sejam lá o que for, começam muitas vezes por “Acordei com o sol a entrar pela janela…”.

Sendo assim, esta manhã fui acordado com o sol a entrar pela janela. Quando me apercebi de que não estava no domínio do sonho, pinchei da cama para sair para a rua, pois à tarde poderia perfeitamente nevar, chover torrencialmente, trovejar ou acontecer o maior ciclone alguma vez sentido no Paranho.
Na caminhada até à esplanada do café, ao sentir os raios de sol, estava longe de imaginar que iria viver um pesadelo.
Sentei-me, pedi um café e abri o livro que levei comigo (e escrito por mim), não que o quisesse ler, mas para torná-lo visível.
Tinha o “Venceslau e outras histórias” aberto na página 47 e a cabeça a começar a tombar, tomada pela sonolência, quando ouço, de forma estridente, perguntarem-me:
- Queres jogar matraquilhos?
Abro os olhos, o livro mantém-se aberto na mesma página, e em frente a mim está sentado um “tipo”, que nunca tinha visto. Apesar das minhas tardes de domingo, quando era pré-adolescente, serem passadas na “matraquilhada”, respondi:
- Não!
Imediatamente, ele desapareceu.
A esplanada estava composta, mas sem nenhum espécime feminino que me mantivesse de olhos abertos, e eles começam novamente a fechar, quando sou sobressaltado com um berro:
- ESTOU A SENTIR-ME ENTUSIASMADA! – diz a Maria, enquanto atravessa a esplanada.
O Sr. Mendes, sentado duas mesas ao lado da minha, grita-lhe:
- Ainda bem!
Depois disto a normalidade voltou aquele espaço, mas por pouco tempo. Os meus olhos ainda não estavam totalmente fechados e ouço, em gritaria, a Carla dizer, do canto da esplanada:
- SOU MUITO FELIZ! E QUEM É FELIZ NÃO TEM QUE ANUNCIAR AO MUNDO!
Entre as várias pessoas sentadas na esplanada, ouve-se:
- Boa!
- Porreiro!
- Gosto!
- Estou contigo!
- Gosto!
- Gosto!
- …
Sem estar a perceber este espectáculo, ouço:
- Queres jogar matraquilhos?
Poça, era o mesmo gajo, com o mesmo convite.
- Não! – respondo de forma seca.
Mantenho-me desperto à espera que a normalidade se reponha. Ao fim de algum tempo, com segurança deixo-me adormecer na cadeira da esplanada, com o livro aberto. Ao fim de não sei quanto tempo sinto as minhas mão a abanar. Acordo, a babar-me,  e a minha amiga Teresa estava a escrever, com marcador, na página 47 do livro, “gosto”!
- Oh, estragaste-me o livro! – digo.
- Estraguei nada! Até logo! – despede-se.
Continuo sentado a olhar para todos os lados e a começar a ficar assustado, e:
- Queres jogar matraquilhos? – diz-me o mesmo gajo.
- Desaparece! – ordeno-lhe.
Enquanto desaparecia, a olhar para trás, volta-me a perguntar – E bilhar? Queres jogar bilhar?
Não percebia a insistência daquele gajo, em jogar qualquer coisa comigo!
Bem, apercebi-me que não iria conseguir relaxar (dormitar) na esplanada e para me manter activo, desfolho uma página do livro. Ajeito-me na cadeira para ficar em posição de “galo” e vejo a Ana, ao estacionar o carro, a bater no carro da frente e no detrás. Despreocupada com os outros condutores, sai do carro, aproxima-se da esplanada e berra:
- OHHHH, QUE CHATICE! E A MANHÃ QUE ESTAVA A CORRER TÃO BEM! LOL, LOL, LOL, LOL…
E todos se riam na esplanada, com o comentário da Ana, e por trás de mim ouço alguém a dizer-me ao ouvido:
- Queres jogar bilhar?
Desvairado, levanto-me e agarro o gajo pelos colarinhos e ameaço-o:
- Se me voltas a convidar para jogar seja ao que for, parto-te todo. Percebes?
- E matraquilhos? – pergunta-me e foge a sete pés.
Pego no meu livro, caído no chão, volto a sentar-me e abro-o à toa. Ficou aberto entre as páginas 98 e 99 e ao tentar disfarçar que o lia, quase que adormecia outra vez, até que…
- HEI, MALTA – era o João, que tinha chegado a correr – APANHEI O MEU CÃO A ROÇAR-SE NUM LIMOEIRO!
O Neves, sentado no meio da esplanada, ri-se, vai para o carro e percorre as ruas da Trofa com a cabeça de fora, gritando e partilhando com todos:
- O JOÃO APANHOU O CÃO DELE A ROÇAR-SE NUM LIMOEIRO! O JOÃO APANHOU O CÃO DELE A ROÇAR-SE NUM LIMOEIRO! O JOÃO APANHOU O CÃO DELE A ROÇAR-SE NUM LIMOEIRO!...

Sentido-me num manicómio, em que o que mais me chateou foi o gajo a convidar-me para jogar matraquilhos e bilhar, fui para casa, dormir…na esperança de sonhar com um mundo normal!

P.S. – Durante algum tempo, este blogue vai hibernar, com a promessa de um regresso!

P.S. (2) – O regresso pode ser já na próxima semana! Não sei se conseguirei viver sem o protagonismo internacional que o “Escrita com Norte” me dá!