domingo, 24 de novembro de 2013

A vida é um jogo.

O sábado é para mim um dos dias mais amigos, mesmo quando começa mal, como aconteceu este fim- de- semana.
O despertador toca às sete da manhã. Consciente do seu significado, estico as pernas, sacudo a cabeça na almofada… e o fim-de-semana que nunca chega.
- Alto, mas hoje é sábado. – pensei.
O corpo volta a encolher e mantém-se fofinho debaixo dos cobertores e a cabeça volta a “acamar” na almofada com um sorriso de menino que se deixa adormecer a pensar na futebolada dessa tarde, às cinco horas, com os “marretas” dos amigos!
Todas as actividades domésticas e de lazer, até às quatro e meia, são executadas com parte (quase todo) do pensamento virado para o jogo. Devo dizer-vos que mesmo quando estou em viagem e no melhor dos sítios, às cinco da tarde de todos os sábados, desejo estar no pavilhão do liceu da Trofa, para uma hora de intenso pontapé na bola.
O que acontece durante essa hora vou omitir, para que os caros leitores e amigos não fiquem a pensar, “Este gajo tem a mania de que é o melhor!”…mas curiosamente sou!
Muitas vezes, a futebolada é seguida de uma ida à tasca “Canzoada”, cujos donos, a dona Natália e o Sr. Manuel, são amigos de infância dos nossos pais. Ele não nos deixa passar sede e a dona Natália, não nos deixa passar fome!
É o nosso “sítio mágico”, onde deixamos de ser crescidos, de ser casados (a não ser que a mulher ligue a perguntar: – Demoras?), de ser pais, onde nos desligamos da posição profissional que cada um ocupa de segunda a sexta e esquecemos o politicamente correcto, que ficou há muito à entrada do ginásio para o jogo de futebol. A cabeça volta a ser pré-adolescente e a de alguns até infantil, onde a amizade basta e voltamos a descobrir o mundo! Ontem, já proibidos de soprar ao balão, ouvimos a história sobre um ex-gay e descobrimos que a mulher quanto mais velha, melhor…
Já atestado e num estado quase a roçar a má disposição, apesar da insistência de alguns para acabar de ver o FCP versus Nacional, despedi-me.
Parecia estar a sair de uma cena suave do “Feios, porcos e maus” mas mesmo assim sentia-me demasiado bonito para me esconder já em casa. Com vontade de uma comédia romântica, parei no café S. Martinho.
Entro e encosto-me ao balcão, lá dentro a sala está cheia.
- Café, Calheiros?
- Sim, David.
Ponho-me de lado para o balcão e fico de frente para uma das televisões sintonizadas no FCP versus Nacional. Por baixo dela, uma mesa, onde estavam sentados um rapaz e uma rapariga, novinhos…se calhar no primeiro encontro.
O FCP controlava o jogo e sem ela ver, ele mantinha as mãos debaixo da mesa, desassossegadas  de nervosismo. O Nacional não conseguia sair da defesa e o sorriso tremia, sem se conseguir manter firme, o FCP reparou nisso e sentia-se seguro e senhor do jogo, fazendo juz à tez morena e cabelos pretos ondulados.
Quando desviava o olhar da televisão para aquela mesa, nunca o via a falar… adivinhava-se uma goleada do Porto. Ela estende os braços pela mesa, e deixa uma mão próxima da dele.
“Põe a mão em cima da mesa e encosta-a à dela!” – Torcia eu, como se estivesse a jogar aquele jogo. Como sportinguista, queria muito que o Nacional empatasse, e acontece aquele momento.
Aquele momento em que ela lhe faz uma pergunta, o miúdo abre a boca e penso que o vou ver finalmente a falar, mas o Nacional perde novamente a bola e o Porto carrega mais uma vez….
Aquela menina, por quem era capaz de me apaixonar se tivesse dezasseis anos, massacrava aquele rapaz perguntando e respondendo por ele. Não entendia porque tinha ela saído com ele! Mas enfim… os jogos têm que ser jogados, senão perdemos por falta de comparência!
Cansado de ver um jogo em sentido único, paguei o café e fui embora com dúvidas se haveria um beijo nessa noite!

Quando chego a casa, deito-me e ligo a televisão para me ajudar a adormecer. Quando vou a cerrar os olhos passa em rodapé, “Nacional empata no Dragão”. Adormeci como acordei, encolhido e fofinho debaixo dos cobertores e a cabeça “acamada” na almofada com um sorriso de menino, que conseguiu um beijo nessa noite, que vai guardar para toda a vida!

sábado, 16 de novembro de 2013

E a Trofa também é minha!

Bom dia amigos(as), o texto deste fim de semana, vão encontrá-lo no blogue eatrofaeminha, cujos administradores tiveram a gentileza de me convidar para escrever. Foi um prazer ter participado neste projecto sério e independente sobre a realidade trofense. Espreitem em,
http://eatrofaeminha.wordpress.com/

domingo, 10 de novembro de 2013

Vendedor de sonhos.

No parque estão dois palanques montados, cada um deles com as cores do seu respectivo partido. Neste cenário, há o facto bizarro dos dois comícios estarem marcados para a mesma hora!
À espera dos discursadores, candidatos a um cargo que interfere directamente com a vida das pessoas dessa terra de que não me lembro o nome, e nem sei se existe, está a população ainda mais bizarra do que o cenário.
Como não me lembro do nome da terra e nem sei se existe, embora julgue que fique próximo da Trofa, chamemos à população de jupiterianos.
Os jupiterianos são fervorosos adeptos de futebol, cada um com o seu clube, uns gostam mais de Magnum e outros de Perna de Pau, outros ainda não trocam um belo iogurte líquido por nenhum dos outros gelados, há quem goste de homens ou mulheres e quem goste dos dois, há quem goste de ginásio e quem goste de estar parado, há quem goste de se indignar e quem goste de meditar,…, mas o que os distingue dos habitantes das outras terras, apesar de não ter a certeza de esta pertencer ao nosso país, é o facto de nenhum jupiteriano ter partido político e gostar de ouvir a realidade e as verdades dos seus políticos…apreciam neles a honestidade!

Nesta noite de discursos, os jupiterianos não estão distribuídos pelos palanques, mas aproximam-se do que está próximo da figueira, onde começa a horas o discurso de um dos candidatos.
Após a apresentação pessoal, este candidato, chamemos-lhe de “A”, traça a história da freguesia, para dar a perceber em que sentido a terra evoluiu em consequência das políticas tomadas. Ao palanque próximo da pereira chega o candidato “B”, atrasado e sem audiência para quem falar, mesmo assim arrisca: – Boa noite!
Por norma, os jupiterianos não se deixam distrair por atrasados, mas mesmo assim o Antunes olha para a esquerda em direcção ao palanque próximo da pereira e quando avista o candidato “B”, pensa – “Seu anormal! Eu que perdi uma perna numa aposta estúpida, um braço num acidente de trabalho e uma mão por causa de outra aposta ainda mais estúpida, sou obrigado a andar ao pé-coxinho e por isso tomo horas para não me atrasar, mas tu…francamente!” – após este pensamento indignado, Antunes volta-se para a frente e prende a sua atenção ao candidato “A”.
Este continua o discurso apresentando o cenário actual, que compara a uma pega de touros em que os forcados estão de costas para o animal – Temos que nos virar de frente! – diz.
Os jupiterianos acenam em concordância, e o Sr. Antero ainda com mais vigor, motivado pela própria experiência, lembrando o dia em que ao atravessar a estrada, chamaram-no, volta-se, e leva por trás uma trombada de uma motorizada. “Parecia um touro”, diz sempre que lembra o acontecimento. Desde então nunca virou costas ao atravessar a estrada.
Do outro lado, o candidato “B” apercebendo-se que não iria conseguir competir em seriedade, tenta do seu palanque chamar a atenção, dizendo: – Comigo, vai entrar dinheiro fresquinho na casa de todas as pessoas, logo pela manhã, juntamente com o pão quentinho!
Ao ouvirem isto, uma parte dos jupiterianos, que prestavam o máximo de atenção ao candidato “A”, não resistiram em olhar para o outro palanque, tendo alguns exclamado: – O quê?!
Mas perante tamanha baboseira, a atenção revirou-se novamente para o palanque próximo da figueira.
- …e as pessoas vão deixar de pagar renda! – dispara o candidato “B”.
Estas duas baboseiras seguidas, turvou de tal forma a mente de alguns jupiterianos, que uma parte considerável deslocou-se do palanque próximo da figueira para o próximo da pereira, para ouvir o candidato “B”, que tenho a certeza que existe.
Mas o candidato “A”, que acho que não existe, agora com menos gente a ouvi-lo, mantinha o seu rigor, explicando o que se podia fazer com aquilo que se tinha, enquanto o candidato “B”, no seu palanque, garantia haver condições para aumentar o fim-de-semana para três dias e aumentar os vencimentos. Ao ouvir isto, os que ainda se mantinham magneticamente agarrados em frente ao palanque próximo da figueira, mudaram-se para o outro lado, ávidos para ouvir quem lhes apregoava ilusões em forma de realidade, com excepção do Antunes!
- A vida não vai ser fácil! – diz o candidato “A”!
- Comigo, todos vão ter uma vida perfeita! – declara o candidato “B”.
Ao ouvir isto, Antunes “pé-coxeia”, como nunca tinha “pé-coxeado” antes e baba-se em frente ao palanque do candidato “B”.
Pela cabeça de cada jupitureano, passava o que cada um entendia como “vida perfeita”, e abraçavam-se comentando uns com os outros “Agora é que vai ser!”

O candidato “B” venceu, de forma esmagadora, e a vida dos jupiterianos ficou muito, mas muito…

domingo, 3 de novembro de 2013

Social Virtual.

Já era tarde e, também, tardava a fechar o computador. Apesar do dia ter corrido bem na vida real, ao serão ainda não tinha conseguido “postar” nada queriducho, estilo “eu dava a vida pelo pai natal”, ou pseudo-inteligente, do tipo que ninguém percebe, mas onde se faz um “like” por via das dúvidas para não se fazer má figura. Algo que também me estava a deixar tenso era o facto de ainda não ter recebido nenhum pedido de amizade, confirmando a estatística do facebook de um por dia, uma das razões porque abdiquei da realidade, em prol do “social virtual”!
Era já era muito tarde quando “cai” um pedido de amizade. Sôfrego, clico no ícone para avistar o pedido. Era uma figura estranha, com um nome estranho e que vive na Índia. De imediato aceitei aliviado, fechei o computador e fui-me deitar. Este novo amigo relaxou-me o suficiente para não ter que tomar a medicação para dormir: – Obrigado bom amigo! – pensei…

De manhã acordo de um pesadelo, em que estava no meio de uma tempestade, com o sol a entrar pela janela! É sábado de manhã, o momento oportuno para partilhar algo ligeiro e queriducho, que não tinha conseguido postar na noite anterior: – Estava a sonhar com água e está sol…LOL! J.
Fiquei paralisado, sentado na cama, à espera de ânimo para seguir a minha vida! Essa fonte de energia, para carregar as minhas “baterias vazias”, chegou trinta e sete minutos depois, com um “like” do meu novo amigo indiano! Levantei-me, preparei-me e fui até ao café. Não combinei nada com ninguém…aparece sempre alguém conhecido!
Quando entro na pastelaria, lá estavam três amigos, não daqueles “old fashion”, que esboçam emoções quando nos vêem, mas daqueles, do “social virtual”, que nos fazem parecer invisíveis aos seus olhos, mesmo estando ao lado deles. Como mandam as regras destas amizades que nos acrescentam valor, nem nos olhamos!
Já na mesa, a empregada pousa a chávena de café que pedi. Tiro uma fotografia à chávena, que partilho no Facebook com o comentário: – Pedi um café curto e a chávena veio, quase cheia J!
Num curto espaço de tempo, os meus três amigos, espalhados em três mesas da pastelaria, fizeram “like”, ou comentaram a minha fotografia, a que se juntaram mais pessoas comentando que lhes aconteceu o mesmo nessa pastelaria…aos poucos fomos descobrindo que a máquina devia ter um problema de dosagem…e assim fomos trocando opiniões sobre o assunto, enquanto a realidade crua aparecia nas notícias que passavam na televisão!
Lá tomei o café cheio, que tinha pedido curto, paguei e saí, sem olhar os meus amigos!
No regresso a casa, cruzo-me com o Joquinha, amigo de adolescência, que rasga um sorriso e me cumprimenta com alegria. Envergonhado e olhando para o chão, digo-lhe: – Tudo bem? – e apresso o passo. Continuo a minha caminhada e já recomposto do triste episódio, vejo que em sentido contrário vem a Lurdes, minha amiga virtual e com quem nunca falei pessoalmente, como mandam as regras.
Depois de nos cruzarmos, ela a olhar para a direita e eu para o ar, ouço um berro. Olho para trás e vejo a Lurdes deitada, agarrada à perna. Volto atrás, “saco” de telemóvel e com um braço por cima da Lurdes e virado para a câmara, com um sorriso bonito, tiro uma fotografia e sigo caminho. Durante o trajecto “posto” a fotografia com a mensagem: – A Lurdes está deitada, com um entorse, na Avenida da Estação Nova. Bora lá ajudar, agradeço a partilha!
Este meu gesto, fez-me sentir bem e leve, e foi suficiente para não me deixar abater pelos cinco mendigos e crianças a chorar, por quem me cruzei a seguir...
Durante o dia as partilhas foram-se sucedendo e já ao final da tarde, o Telmo, cuja amizade estamos a tentar recuperar, após o ter cumprimentado quando nos cruzamos na rua, depois de uma amizade solidificada no “social virtual”, “posta” nova fotografia da Lurdes, com a mensagem: – A Lurdes já não está no mesmo sítio! Arrastou-se e continua agarrada à perna no Largo de S. Martinho! Partilhem.
Novamente ansioso, desta vez para recuperar uma amizade, partilhei a fotografia da Lurdes, para ajudar o Telmo a sentir-se bonzinho!

Sorte da Lurdes em ter-nos como amigos!