O sábado é para mim um dos dias
mais amigos, mesmo quando começa mal, como aconteceu este fim- de- semana.
O despertador toca às sete da
manhã. Consciente do seu significado, estico as pernas, sacudo a cabeça na
almofada… e o fim-de-semana que nunca chega.
- Alto, mas hoje é sábado. –
pensei.
O corpo volta a encolher e
mantém-se fofinho debaixo dos cobertores e a cabeça volta a “acamar” na
almofada com um sorriso de menino que se deixa adormecer a pensar na futebolada
dessa tarde, às cinco horas, com os “marretas” dos amigos!
Todas as actividades
domésticas e de lazer, até às quatro e meia, são executadas com parte (quase
todo) do pensamento virado para o jogo. Devo dizer-vos que mesmo quando estou
em viagem e no melhor dos sítios, às cinco da tarde de todos os sábados, desejo
estar no pavilhão do liceu da Trofa, para uma hora de intenso pontapé na bola.
O que acontece durante essa
hora vou omitir, para que os caros leitores e amigos não fiquem a pensar, “Este
gajo tem a mania de que é o melhor!”…mas curiosamente sou!
Muitas vezes, a futebolada é
seguida de uma ida à tasca “Canzoada”, cujos donos, a dona Natália e o Sr.
Manuel, são amigos de infância dos nossos pais. Ele não nos deixa passar sede e
a dona Natália, não nos deixa passar fome!
É o nosso “sítio mágico”, onde
deixamos de ser crescidos, de ser casados (a não ser que a mulher ligue a
perguntar: – Demoras?), de ser pais, onde nos desligamos da posição
profissional que cada um ocupa de segunda a sexta e esquecemos o politicamente correcto,
que ficou há muito à entrada do ginásio para o jogo de futebol. A cabeça volta
a ser pré-adolescente e a de alguns até infantil, onde a amizade basta e
voltamos a descobrir o mundo! Ontem, já proibidos de soprar ao balão, ouvimos a
história sobre um ex-gay e descobrimos que a mulher quanto mais velha, melhor…
Já atestado e num estado quase
a roçar a má disposição, apesar da insistência de alguns para acabar de ver o
FCP versus Nacional, despedi-me.
Parecia estar a sair de uma
cena suave do “Feios, porcos e maus” mas mesmo assim sentia-me demasiado bonito
para me esconder já em casa. Com vontade de uma comédia romântica, parei no
café S. Martinho.
Entro e encosto-me ao balcão,
lá dentro a sala está cheia.
- Café, Calheiros?
- Sim, David.
Ponho-me de lado para o balcão
e fico de frente para uma das televisões sintonizadas no FCP versus Nacional.
Por baixo dela, uma mesa, onde estavam sentados um rapaz e uma rapariga,
novinhos…se calhar no primeiro encontro.
O FCP controlava o jogo e sem
ela ver, ele mantinha as mãos debaixo da mesa, desassossegadas de nervosismo. O Nacional não conseguia sair
da defesa e o sorriso tremia, sem se conseguir manter firme, o FCP reparou
nisso e sentia-se seguro e senhor do jogo, fazendo juz à tez morena e cabelos
pretos ondulados.
Quando desviava o olhar da
televisão para aquela mesa, nunca o via a falar… adivinhava-se uma goleada do
Porto. Ela estende os braços pela mesa, e deixa uma mão próxima da dele.
“Põe a mão em cima da mesa e
encosta-a à dela!” – Torcia eu, como se estivesse a jogar aquele jogo. Como
sportinguista, queria muito que o Nacional empatasse, e acontece aquele momento.
Aquele momento em que ela lhe
faz uma pergunta, o miúdo abre a boca e penso que o vou ver finalmente a falar,
mas o Nacional perde novamente a bola e o Porto carrega mais uma vez….
Aquela menina, por quem era
capaz de me apaixonar se tivesse dezasseis anos, massacrava aquele rapaz
perguntando e respondendo por ele. Não entendia porque tinha ela saído com ele!
Mas enfim… os jogos têm que ser jogados, senão perdemos por falta de
comparência!
Cansado de ver um jogo em
sentido único, paguei o café e fui embora com dúvidas se haveria um beijo nessa
noite!