sábado, 26 de janeiro de 2013

O Faria e o Rating!


Se para uma boa parte das pessoas, o domingo é um dia triste e depressivo por antecipar uma segunda-feira, para mim e para uns quantos é um dia de entusiasmo que começa bem cedo.
Alterno as minhas manhãs deste dia, com uma futebolada com uns amigos, ou com a prática de BTT com outro grupo de amigos.
Quando calham as manhãs de BTT e me desloco já montado na minha “menina” de duas rodas ao encontro dos outros “atletas”, isto bem cedo (mesmo bem cedo), cruzo-me por vezes com gente (que eu conheço) de carro, que nitidamente está a acabar o sábado à noite, enquanto eu já estou em pleno domingo!
Se esses conhecidos parassem o carro e eu entrasse nele, seria transportado do domingo de manhã, para o sábado à noite…acho que isto é que é a “Teoria da Relatividade”, que Einstein queria explicar, mas não de forma tão clara como eu!
Na verdade quando me cruzo com esses “atletas” da noite, certamente eles pensam – O Calheiros está tolinho! – enquanto eu penso – O Mi…, o Ant…, o Pe… e o Car…, estão todos “lixados”, enquanto eu estou atlético e saudável! – alheio aos quatro quilos a mais, devidamente explicáveis por uma paragem de mês e meio, devido a uma lesão na coxa.
Desde o encontro com os Batatistas, desculpem, Betetistas, até ao final do passeio, toda a selecção natural que fiz desde criança até idade adulta, que resultou na redução de uma imensidão de amigos para três, desaparece…somos novamente crianças e o mundo está novamente cheio de gente amiga!
Quanto aos domingos de futebol, como o adversário é forte, eu e o Quim somos o garante de que pelo menos somos a equipa mais “bonita”. Certeza esta, ainda sob os efeitos de um elogio que ouvimos de duas meninas em 1992, irmãs e desequilibradas…mas de bom gosto!!!
Em campo, tínhamos a certeza que éramos os estrategas e o garante do equilíbrio da equipa, até que…
…Certo dia, o amigo Faria começou a ir. Joga no nosso meio campo. Mais do que um jogador, ele revelou-se um comentador…comenta todos os nossos lances, fazendo avaliações on-line, transformando um momento de lazer em momentos de stress, qual Standard & Poor’s e a Moddy’s com os testes de stress aos Bancos!
A nossa equipa, antes do Faria, julgava-se valorosa e inteligente, à semelhança de Portugal na UE, quando pensávamos que tudo era cor-de-rosa, que o dinheiro não acabava e seríamos capazes de grandes jogadas. Chutávamos à baliza de qualquer maneira e de qualquer sítio, mesmo da linha de fundo…e por mais estúpido que parecesse e sem dinheiro queríamos uma linha de TGV!
Os Mercados e Agências de Rating apareceram na vida dos países e o Faria apareceu na nossa equipa.
Nós, que nos tínhamos em alta estima e nos cotávamos no Triplo A, fomos sendo puxados para baixo. Eu e o Quim estamos com B, enquanto os outros elementos da equipa, estão ao nível da Grécia…no lixo!
Mas as Agências de Rating falham na marcação e por vezes não se entende as suas observações, quando tentam ludibriar de forma infantil!

Desde que o Faria começou a aparecer, no fim dos jogos vou directo a casa dos meus pais perguntar à minha mãe: – Mamã, quem é que joga bem? – ao que ela responde: – És tu, meu filho!

Pena que Portugal, em vez de uma mãe, tenha uma madrasta, a Dona UE!

sábado, 19 de janeiro de 2013

(Des)Acordo!


Há pessoas que não se esquecem! Pessoas que, para o bem ou para o mal, interferiram na nossa vida num determinado momento e deixaram a sua marca para sempre.
Na minha vida uma dessas pessoas foi a minha professora da primária…a professora Dona Maria Luísa!
Eu não fui à tropa. A maior parte das pessoas que nasceram em 72 e em 73, como é o meu caso, na altura da inspecção, passámos à reserva por excesso de contingente. A minha experiência militar resume-se a um dia e meio de alguma galhofa no Quartel da Constituição!
Algumas cabeças paradas no tempo podem pensar “ És um menino! Não foste à tropa.”
A verdade é que eu e os meus coleguinhas da Escola Primária do Paranho, na Trofa, fizemos uma verdadeira tropa de Comandos, dirigida pela professora Maria Luísa!
Havia Rigor, Disciplina, Respeito,…, estes eram os Mandamentos do Quartel do Paranho e a Comandante Suprema era a extensão dos pais na escola!
A geração de 72 e 73, não foi à tropa, mas foi à escola, se calhar mais importante, e todos nós ainda sabemos fazer contas e escrever!
Outra lição, esta mais pessoal, aconteceu no recreio da recruta, quando ao jogar aos berlindes com o Pedro, este ao perder não me deu, conforme acordado, os berlindes dele! É muito má a sensação de engano, quando num acordo, uma das partes não cumpre com o seu papel!
Furioso e na altura gordo, deixo cair o meu peso em cima do Pedro – Toma que é para aprenderes! – e deixei-me estar em cima dele durante cinco minutos.
A lição mais importante nestes anos de recruta, que começou aos seis anos, aplicada pelos professores e pelo meus pais foi,  pensar por mim próprio e não me deixar arrebanhar, esta foi a derradeira lição de sobrevivência…ao contrário do meu país!
Por causa dos governantes do meu país, apetece-me engordar outra vez, ficar muito gordo, um obeso mórbido, e deixar-me cair em cima deles. E não falo só dos actuais, falo dos sucessivos governantes que se governaram, a si e aos seus, sem darem rumo e prestígio à Nação, falhando o acordo da governação séria!
Mas nós também temos culpa, não soubemos pôr travão e sempre ficamos contentes por termos o record da maior feijoada do mundo, e da maior omolete, e do maior bolo de chocolate, e do chico esperto, dignos de notícia de telejornal…ou perder dias a discutir se o Ronaldo é o melhor jogador do mundo ou não! Cá por mim preferia ser o país dos governantes sérios e do povo com qualidade de vida!
A governação deste país é a cara da Dona Miquinhas, que não perde uma festa popular, mesmo que não goste do artista que vai actuar!
Temos ido a várias festas e perdido tempo naquilo que não nos interessa…uma das últimas, a festa em honra do Santo Acordo Ortográfico. Vestimos a nossa roupa de gala, fomos para a feira mas os carrinhos de choque, o rolote das farturas e o cantor que iria actuar não apareceram…é triste fazer uma festa sózinhos!
Fomos os primeiros, com rapidez, a abandonar a nossa escrita…e assim se perde a nossa própria história, que indica que a nossa escrita vem do latim e muitas outras razões válidas, sem ser o próprio orgulho, para que não se altere, ou sejamos nós a ditar, por evolução natural da nossa própria escrita! Alguém quis brilhar e tomámos a dianteira, como quando fizemos a maior feijoada do mundo, mas os brasileiros disseram:  – Afinal, temos tempo! – e os angolanos: – Entendam-se e depois aplicamos o acordo! - e os timorenses ponderam se devem continuar, ou não, a ensinar o português na escola!
Outro engano! Semelhante a um jogo de futebol em que Portugal não escolhe “campo” nem começa com a bola!
Um dia, se calhar, Angola será a maior potência do mundo Lusófono e irá impor outro acordo ortográfico, adaptado à forma como eles falam…um dia, em Portugal, vai-se falar crioulo!

De vez em quando ainda vejo a professora Maria Luísa… velhinha, mas de passo firme e os seus olhos a sorrirem para mim…comecei a escrever em Português!

sábado, 12 de janeiro de 2013

Era uma vez a minha rua.


Na minha adolescência, festejei apenas uma vez o S. João…sempre gostei de movimento, mas nunca de confusão!
No final dessa noitada, já de manhã e com o sol a brilhar, na altura da despedida dos amigos, um deles, chamemos-lhe Rocha, diz: – Agora vou pintar as grades das escadas, lá de casa!
Todos viraram costas a caminho das suas camas a pensar “coitado” e eu pensei o mesmo…no entanto, digo-lhe: – Rocha, vou ajudar-te!
Ao chegar à casa do Rocha e ver a extensão das grades, apercebi-me que íamos ter trabalho para todo o dia! Arrependi-me pela segunda vez nas últimas doze horas…a primeira foi a própria noitada… confusa!
Chegado o final do dia, o arrependimento transformou-se em satisfação, por ter ajudado um amigo! Sensibilizado, o Rocha convida-me para morar com ele! Olhei para ele desconfiado, mas rapidamente as más ideias que me estavam a passar pela cabeça foram postas de lado. Afinal o Rocha é mecânico, tem as mãos sujas de óleo e muda calços de travões…é muito macho!
Agradeci-lhe e disse que não, como os ingleses à moeda única, e expliquei-lhe que gostava dele como amigo, mas éramos muito diferentes para vivermos juntos!
Fui para casa, que fica na ponta da Rua Europa, como Portugal, e onde tenho como vizinho o Sr. Henrik, um simpático Alemão que se apaixonou por Portugal, há 29 anos atrás!
Mal abro a porta, dirijo-me para o quarto, onde caio esmagado pelo peso do sono! Tinha de descansar…no dia seguinte iria ajudar o Sr. Henrik a cortar madeira, para a sua lareira.
O dia seguinte, depois da cooperação entre mim e o simpático Sr. Henrik, terminou com uma festinha na casa da dona Amélia, que convidou toda a vizinhança!
Houve muita gargalhada e discussão! Achávamos piada a algumas características de uns e outros e dizíamos com franqueza: – Não conseguia viver contigo!
Nessa noite, quando todos foram para suas casas e se deitaram, durante o sono, algo inexplicável aconteceu!
Acordei bem cedo e espreitei à janela. As casas da Rua Europa tinham desaparecido e dei por mim dentro de um palácio!
Olá! – ouço atrás de mim. - É o Sr. Henrik. - Depois aparece a dona Amélia, depois outro vizinho, e outro…todos os moradores da Rua Europa estavam naquele palácio!
Sem encontrar explicação e com as casas desaparecidas, achámos boa ideia vivermos naquele casarão…afinal, havia espaço para todos!
Aparece um senhor, o mordomo do palácio, de aspecto austero que nos distribui pelas divisões da casa. Não foram distribuídas de igual forma, o Sr. Henrik teve direito a cinco divisões, a Dona Amélia, a três,…, e a mim coube-me apenas um pequeno quarto, mas limpo, quentinho e confortável. Chegava-me!
A primeira noite no palácio foi cor-de-rosa, estávamos todos juntos no mesmo espaço e sentíamos-nos seguros…apesar de alguns ruídos e hábitos.
Com o passar do tempo, o que no início era aceitável, começou a tornar-se um dor de cabeça!
Eram os roncos do Sr. Henrik durante o sono; era a vaidade da Carolina, que ninguém tirava de frente do espelho da casa de banho, o que impedia o Sr. Augusto dar livre curso às suas constantes descargas intestinais, motivada por uma fluidez fora do habitual; era o cheiro a tabaco espalhado pelo palácio, deixado pelos fumadores inveterados da casa; era a luta na hora das refeições, porque uns comiam mais do que outros… enfim… a discórdia começou a instalar-se no palácio da Rua Europa!
Como bom moço, ia aceitando tudo e todas as diferenças…mas aquele dia!
Nesse dia, o mordomo do palácio, de aspecto austero, entra no meu quarto onde tinha acabado de fazer a cama e alinhado as almofadas decorativas em forma de losango!
- Não pode ser! – diz-me o mordomo – As almofadas têm que estar em forma de triângulo cateto! Assim fiz, sem saber muito bem porquê!
No dia seguinte iria novamente colocar as almofadas em forma de losango e o mordomo, austero, determinar, outra vez, a colocação, desta vez em forma de triângulo obtuso!
Apesar das diferenças entre os moradores do palácio e os diferentes tratamentos, não conseguia mais permitir que o mordomo, de aspecto austero, entrasse no meu pequeno quarto e me impedisse de colocar as almofadas como eu queria!
No dia X, às Y horas abandono o palácio. Na Rua Europa, onde existiam casas com gente, há agora o palácio e se eu olhar para a ponta Este da rua vejo várias casas…de gente pobre ou remediada, que não fazia parte do nosso grupo!
A minha casa, onde eu determinava os hábitos e as regras, tinha desaparecido! Com umas tábuas, que estavam na rua, fiz um barraco ao lado do palácio…não tinha dinheiro!
Vi-me pobre e frustrado, a ter que começar tudo de novo, mas consciente que tenho que levar a vida que posso e não viver a vida dos outros!
Na primeira noite no barraco tive um pesadelo, sonhei com a Integração, quando vivi com toda a gente da Rua Europa na mesma casa! De manhã acordei a pensar o quanto era bom quando cada um vivia em sua casa e nos ajudávamos uns aos outros, em Cooperação!

Quando tiver dinheiro, vou comprar almofadas e decorar a minha cama como eu quero!
Na porta da casa preguei o poema “Cântico Negro”, para não me esquecer… 

domingo, 6 de janeiro de 2013

Números mágicos.


O gosto pela escrita levou-me a escrever um livro! Como um livro não se escreve todos os dias, para manter o hábito, criei um blogue, mas iludido com a ideia de que ainda me sobra tempo para exercer esta atividade que me distrai no teclado, criei uma página no Facebook de nome “José Calheiros – Escrita com Norte”, para dar livre curso às ideias (boas, mais ou menos ou más) que percorrem o meu pensamento.
Inexplicavelmente, estou à espera de atingir os 100 “gostos” nesta página, para começar a contar “estórias”! E porquê? Que lógica me fez determinar este número, e não 105, ou 80?! Sem explicação inicial, fui-me apercebendo, conforme a minha memória recuava no tempo!
Descobri que à semelhança de superstições, há números “mágicos” que, sem nos apercebermos, se enraízam nas pessoas e povos e acabam por interferir nas nossas decisões mais básicas…para mim, o 100 é um deles…mesmo que não concorde com as superstições.
Regredi aos tempos de escola, em que a aula “100” era festejada com bolos e bebidas, e transformava-mos esse facto em acontecimento, quase meritório de notícia de abertura no jornal da TVI… apesar de não concordar!
Concordava com o festejo, mas era a favor que este se realizasse na aula 27. Permitiria que em todas as disciplinas houvesse esta celebração e naquelas que eram mais frequentes no “horário”, como Português e Matemática, se repetisse várias vezes durante o ano letivo! Seja como for, o “100” ficou gravado na minha memória! E cá estou eu à espera de mais três “gostos”, para atingir o número mágico!
Outro número, cuja superstição discordo, está profundamente marcado na tradição cristã. Trata-se do 666 que nos transporta para o fim dos tempos e representa o Anticristo, a Besta, que para mim seria melhor representado pelo 4, número do dorsal do defesa central, (chamemos-lhe “Bentinho”) de uma equipa, que prefiro não dizer o nome, participante no campeonato concelhio de futebol, na Trofa. "Bentinho" é uma verdadeira besta que desbarata à sarrafada os avançados adversários e por vezes dita o fim dos jogos!
7, outro número almejado, para quem nele acredita. Felizmente para mim, no máximo, representa um “número primo”!
Mas já para os Muçulmanos, mediante certos comportamentos, se for possível dinamitarem-se no meio de uma multidão, isso representa a ida para o céu e terem direito a 7 virgens! Teriam a minha compreensão se a promessa fosse assistirem à prisão de 7 políticos portugueses ou o Sporting ganhar um campeonato nas próximas 7 décadas!
Nesta crença seria aceitável como “número mágico” o 1. Após a “auto-dinamitação” numa feira ou dentro de uma igreja, no céu, em vez das 7 virgens, teríamos uma profissional do sexo e o mártir escapava à malha sentimental que as virgens criariam após serem “desfloradas”!
A seguir ao 7, vem o 8, que simboliza o infinito e para algumas culturas, como a chinesa, está associado à prosperidade e à multiplicação.
Infelizmente para mim o 8, não é infinito, tem rosto, e puxa-me para a austeridade. Faz-me lembrar o Alfredo, esse caloteiro que me deve 8 contos desde 1993…nunca mais o vi!

Seja como for e mesmo discordando, continuo sugestionado por estas associações e aguardo que a minha página chegue aos 100 “gostos”!