domingo, 29 de dezembro de 2013

Ternura dos quarenta!

Era de manhã e lá fora chovia muito. Quando o telefone toca, eu estava num dos estados mais idílicos que existem, proporcionado pelo binómio quentinho/fofinho, enfiado debaixo dos cobertores.
Perante o toque irritante do telemóvel (tenho que o mudar) a querer separar esse binómio, estico o braço de debaixo dos lençóis e puxo-o para dentro do “casulo”.
- Estou?! – atendo com a voz sonolenta e melada.
- Parabéns filhinho! Como te sentes no teu primeiro dia de quarentão charmoso? – pergunta a minha mãe.
Fui apanhado desprevenido pela pergunta, não pelo lado do charmoso, mas pelo lado do quarentão. No dia anterior, 26 de Dezembro, tinha feito quarenta anos.
Sem saber como me sentia, respondi:
- Sinto-me espectacular!!!
Desligamos e…não foi um sonho!
Passaram quarenta anos desde 26 de Dezembro de 1973 e quarenta anos e dois dias desde que a minha mãe foi para o hospital para me ter. Demorei dois dias para nascer, claro, sentia-me quentinho/fofinho!

Saí da cama com o mesmo custo com que saí do ventre da minha mãe!
Enquanto me arranjava, liguei o rádio. Durante as ultimas escovadelas nos dentes, o radialista que estava a passar música naquela estação faz uma passagem que nem lembra ao diabo, de Beyoncé passa para Paco Bandeira, o gajo que canta “A ternura dos quarenta”.
No final de ouvir a canção e de inconscientemente ter prestado atenção, à letra, pensei, “A canção devia-se chamar, A Ternura dos Oitenta”, e despassarado estava à procura dos meus netos!
A ideia era dar um passeio a pé, mas achei demasiado ternurento depois de ouvir Paco.
 “Faço” o saco e vou para o ginásio…miúdas, música frenética, pesos…altamente jovem!

Depois de equipado, antes de entrar no ginásio, encolho a barriga, como se ainda tivesse trinta e nove e entro pela porta…passo o olhar pela sala e…quatro homens e música de Natal. Relaxei, a barriga também, e virei-me para os pesos.
Enquanto levantava “ferro”, um pouco acima do normal, aqueles quatro exemplares masculinos olhavam-me com admiração! E esse facto, devolvia-me a confiança abalada com a canção do Paco.
Um deles ao reconhecer-me, diz para os outros – É o filho do Calheiros! – e vêm ter comigo, perguntando pelo meu pai. Afinal, eram quatro sessentões e um deles pergunta-me:
- Tu és da idade da minha filha, não és?
- Sim, talvez um ano mais velho!
- Tens trinta e nove?
- Quase, fiz quarenta, ontem!
- Tchiiiiiiii! – exclamam, olhando uns para os outros!
Virei costas e pus-me em frente ao espelho, “Estou igual!”, pensei, “Ou não?!”, voltei a pensar, “Estou, estou!”, convenci-me…e fui embora, achando o ambiente um pouco idoso!
À saída chovia, e enquanto me convencia a iniciar a caminhada até casa, sem guarda-chuva, digna de um espírito rebelde, uma boa amiga, sabendo da efeméride, abraça-me e diz-me:
- Parabéns! Deixa lá, é só um número!
O tom empregue foi o mesmo com que me deram os pêsames, dias antes, com a morte do meu avô…apenas mudava a frase!
- I will survive, Paulinha! – respondi e faço-me à estrada.
Devido à chuva cada vez mais intensa, acelero o passo, quase correndo, até que chego a casa. Pouso o casaco, respiro fundo e pergunto-me como será a pulsação aos quarenta. Meço-a e a máquina batia tão certa como um carro, com pouquíssimos quilómetros, a sair de um stand de usados!
Afinal, eu sentia-me igual ao que era na manhã do dia anterior! Num momento tinha trinta e nove e no outro quarenta..nada mudou!


O que mudou foi a forma com que os outros encararam o meu novo número…pelo sim, pelo não, nesse dia não liguei mais o rádio!

domingo, 22 de dezembro de 2013

Morreu o Maior.

Desde que me lembro de mim como pessoa, lembro-me do Maior sempre presente, mesmo quando estava ausente!
Os domingos na casa do Maior eram cheios, onde ele reunia a família e no topo da mesa, onde se sentava, os olhares e as conversas passavam por lá…era bem-disposto e gostava de conversas animadas e para completar este quadro de desordem feliz, lá estava a Pantera, a cadela da casa!
A meio da tarde rumávamos ao Cine-Teatro Alves da Cunha, com balcão e onde a primeira fila da plateia eram cinco cadeiras, propositadamente lá instaladas, para mim, para o meu irmão e os meus primos. Estávamos tão próximos da tela que éramos engolidos por ela e sentíamos-nos personagens dos filmes!
O Cine-Teatro Alves da Cunha, foi mandado construir pelo pai do Maior, depois de em finais da década de 20 do século passado, a sala de espectáculos existente na Trofa, ter-se incendiado. Além da sala de espectáculos, o pai do Maior tinhas outros negócios, que lhe valiam respeito, mulheres e muitos filhos bastardos. Tudo isto associado ao fervor republicano, e os fervores não são bons conselheiros (digo eu), o pai do Maior deixou-lhe de herança, não dinheiro, mas o gosto pelas mulheres e uma vontade férrea para fazer o seu caminho!
Já aqui vos mostro que o Maior não é Deus, não quero desumaniza-lo, o Maior era gente!
Gente com a certeza de que o caminho para ter as coisas era o trabalho e ainda adolescente trabalhava numa fábrica e no final fazia uns biscates de electricista. Um desses biscates, num final de tarde, foi na fábrica de chapéus do tio do Maior. Imagino-o a passar os olhos pelas empregadas, mas ao olhar para uma, os olhos param e não avançam. Ela chama-se Maria e o Maior ficou encantado!
Ficando a saber que a Maria tinha vários pretendentes, o Maior tinha a seu favor o facto de ser sobrinho do patrão, mas não queria usar essa arma. Um dia chegou à fala com ela oferecendo-lhe um quilo de figos.
Começaram a namorar, casaram e tiveram duas filhas. E desde que ofereceu esse quilo de figos à Maria, a mulher mais admirável e das mais bonitas que alguma vez conheci, a vontade férrea do Maior em busca de trabalho, para a família estar bem, levou-os por vários sítios. Para a Maria, na altura, apesar das dificuldades, o mundo perfeito era quando estavam os quatro, juntos!
Novamente na Trofa e já definitivamente instalados, uma empresa com duas áreas de negócios começa a crescer, fruto do trabalho do Maior. Uma de electricidade, que lhe valeu instalar a rede eléctrica em Trás-Os-Montes (para quem estiver a ler este texto e estiver nesta região, é provável que todos os postes que ainda existam de madeira, tenham sido instalados por ele e os empregados), e outra, fruto de um encanto de menino, o cinema!

Tenho bem presente, alguns dias, ainda pré-adolescente, em que o Maior me tirava a um dia de brincadeira e punha-me a levantar postes com os empregados. Desde cedo sempre quis mostrar a mim, ao meu irmão e aos meus primos, que sem trabalho não se consegue nada…esse é o segredo…nós não entendíamos!
Com os anos a parte eléctrica foi dando lugar ao cinema e o Maior na década de 80 do século passado era o maior empresário cinematográfico do país, não contando com a Lusomundo, que além de exibidores, também eram (e ainda são) distribuidores, de quem o Maior era o melhor cliente.
Depois veio o vídeo e mais tarde os Multiplex e já ninguém ia aos Cine-Teatros ver filmes. O que se ganhou foi-se perdendo, tendo o Maior vendido a sua última casa, o Cine-Teatro de Anadia, à Câmara local.
Apesar do que ele construiu e perdeu, via nele sempre uma inocência de criança, que não entendia e que o prejudicava. O Maior acreditava nas pessoas, acreditava na palavra dada e no aperto de mão. Desiludiu-se imensas vezes e mesmo assim não deixava de acreditar nas pessoas!!!
Após a “queda” e já mais velho a vontade de continuar a ganhar mundo e de trabalhar eram injecções de rejuvenescimento…e em vez de descansar carregou o cinema às costas!
Se em excursões, as pessoas do interior vinham ver o mar, o Maior e o seu cinema itinerante levaram a sétima arte às pessoas do interior. Tive a felicidade de, nas minhas férias da escola, fazer milhares de quilómetros com o Maior. Não raras vezes, quando chegávamos ao fim do mundo, eu perguntava:
- Já chegámos?
E ele respondia:
- Não! Ainda falta um bocadinho.
Quase sempre, quando parávamos para além do fim do mundo, a surpresa acontecia! Com o Maior fiquei a saber o quanto Portugal é bonito e a perceber as suas gentes…e a ele também!
Ele afinal era como aquelas pessoas do interior, gente de uma palavra e o aperto valia o mesmo que uma assinatura…confiavam uns nos outros! Por isso ele se sentia tão bem, lá!

Foram milhares de quilómetros, milhares de discussões, milhares de pontos de vista diferentes…e milhares de abraços que não te dei! Pensei que tinha todo o tempo do mundo, afinal eras o Maior…e dou por mim a pensar cada vez mais como tu!

Em Março de 2007, a mulher sempre presente, a Micas, como o Maior gostava de a tratar, devido a doença prolongada morreu numa madrugada de sexta para sábado, às quatro da manhã. O Maior passou o resto da noite a falar com a Micas e tenho a certeza que lhe pediu desculpa de algumas coisas…afinal o Maior é humano!

A morte da Maria, a pessoa mais admirável que conheci, foi uma grande perda!

O maior sentiu muito, mas continuou a trabalhar, voltou a casar e a divorciar-se vinte dias depois (é mesmo o Maior), e eu, o meu irmão e um primo, continuávamos a ir com o Maior, por vezes, a uma tasca a Vizela, comer e beber, que alimentava acesas discussões, muitos pontos de vista diferente…e quem estivesse a observar, facilmente se apercebia o quanto aquelas pessoas se gostavam!
Aos oitenta e quatro anos o corpo do Maior começa a fraquejar e sinais de senilidade começaram a aparecer. Quando a boa vontade já não era suficiente para cuidar dele, foi para um lar, na Trofa. “Arrebitou” com a presença das meninas que cuidavam dele e mesmo na doença, levou-nos para um mundo que já existiu e no qual mergulhávamos com ele!
Os nossos encontros eram viagens no tempo, ao estilo “Good bye Lenin”, onde na cabeça do Maior estávamos ainda na década de oitenta, e falávamos da programação para os cinemas, se tinha ido buscar o amplificador à oficina e enviado a publicidade para a Régua,…e de repente o lampejo de realidade e de falta surgia com a pergunta:
- A Micas?
A saúde continuou a degradar-se e começou a fazer umas “visitas” ao hospital, cada vez mais prolongadas. Na última “visita”, não iria regressar ao lar e na minha última visita que lhe fiz, estava ali o corpo do Maior, que só respirava, mas ele já não estava lá…mas os olhos brilharam e captaram a minha atenção!
Estava sozinho. Debrucei-me ao nível da cabeça dele e “espreitei” para dentro do seu olhar. No fundo dos olhos do Maior, via-o sentado no escritório a preparar a programação para o mês de Dezembro nos seus cinemas…e sorri! Dois dias depois, morreu.

21 de Dezembro de 2013, o Maior foi enterrado depois de décadas a “comer terra” como diria Miguel Torga e pela primeira vez vi um padre no final da celebração da missa a falar do defunto com um sorriso na boca e da alegria que foi ter conhecido tamanha figura, há muitos anos atrás, em Rio de Moinhos!
O Maior, pela sua actividade única (sem nunca ter pedido ou recebido subsídios), teve cartas de elogios (sapatadinhas nas costas) de governantes, foi notícia em tudo o que é jornais, revistas e canais de televisão.

O Maior chama-se Joaquim da Costa Azevedo e é meu AVÔ!
Não me dêem os pêsames, dêem-me os parabéns por ser neto do Maior! 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Distraído Anónimo.

Há algo que o homem durante o seu crescimento não desenvolve, algo para qual nem a sua mãe o consegue preparar…

Foi a primeira vez para João, e ainda não eram casados, quando Lurdes lhe pergunta:
- Não notas nada de diferente?
- Aonde? – responde à pergunta com outra pergunta.
- Em mim, meu lindo!
Esta cena aconteceu no início de uma tarde de Verão e enquanto o dia durou, João olhava para Lurdes com a tensão a aumentar sem vislumbrar nada de diferente na namorada, e já o sol se punha quando finalmente ele arrisca responder com sinceridade:
- Não, não vejo nada de diferente! – disse, esboçando um sorriso tímido.
Perante a resposta, Lurdes a “morenaça”, que da parte da manhã tinha pintado o cabelo de amarelo com madeixas liláses, em vez de acabar o namoro, pensou, fruto de uma raiva imensa, “Havemos de casar e tu vais sofrer!”.

É final de tarde, João está a chegar a casa e depois de três meses de namoro e quinze anos de casamento, a pergunta que mais teme continua a ser: “Não notas nada de diferente?”.
Abre a porta da cozinha e dá de caras com a mulher.
- Olá meu amor! – diz com voz trémula.
- Olá Jójó! Não notas…
E as pernas de João tremem que nem varas verdes.
- …que está frio?
João suspira de alívio: – Um bocadinho, minha Linda! - e segue para o corredor para pousar o casaco no bengaleiro.
- Por falar em “linda”, não notas nada de diferente?
Perante a pergunta temida, João vai para o escritório e enquanto abre o computador, exclama em voz alta:
- Linda?!
- Sim! Na sala, vê bem!
O computador está ligado e João abre uma pasta onde tem as fotografias tiradas nessa manhã à mulher e a todas as divisões da casa. Sem perder tempo vai para a sala com o computador e compara o que vê com as fotografias tiradas dessa divisão.
- Amooor! Está tudo igual!
Furiosa, Lurdes irrompe pela sala:
- Iguaaal? E em mim, não notas nada?
João abre as fotografias tiradas a Lurdes nessa manhã, olha para ela e:
- Cortaste o cabelo?!
Lurdes, a “espumar”, veste um casaco, pega num saco e nas chaves do carro e sai, sacudindo a cabeça fazendo sobressair as extensões que tinha colocado nessa tarde, dizendo-lhe:
- Se queres comer, faz o jantar!
Triste e a precisar de algum ânimo, João vai a uma drogaria perto de casa, que só fecha às vinte, comprar um pisca-pólos e ver as ferramentas. Enquanto bisbilhota uma chave de estrela, ouve:
- Olá João!
Era um bom conhecido, que mora há já algum tempo ao fundo da rua, atulhado de ferramentas de medição: régua, esquadro, escantilhão, nível, fio-de-prumo…
- Vais construir uma casa? – pergunta João a brincar.
Depois de um compasso de espera, Miguel, o bom conhecido, decide confiar em João…e desabafa:
- Não, João. Todo este material é para fazer marcações no chão de minha casa. Hoje, para a agradar, deixei os chinelos no sítio e a Maria pôs-me de castigo com o argumento de que o chinelo do pé direito estava deslocado dois graus para norte…!!!
Ao ouvir isto João, sem nada dizer, acena a cabeça em concordância com o amigo e com um olhar solidário! E Miguel prossegue:
- …E para acalmar os ânimos, disse que os brincos novos que ela estava a usar lhe ficavam muito bem!
- E?! – pergunta João, expectante.
- Afinal não eram novos! Ofereci-lhe os brincos há cinco anos, num fim de semana romântico!!! Foi o caos…estou aqui sem comer!
Por detrás de uma estante, onde estava a ver umas tintas de interiores, Vilaça, que casou uma segunda vez, esquecendo-se amiúde que mudou de mulher, sem querer ouviu a conversa e, interpôs-se:
- Amigos, eu posso ajudar-vos! Logo à noite estais livres?
- Sim! - respondem em uníssono, João e Miguel.

Nessa noite, João, Miguel e Vilaça, estão numa sala cheia de homens heterossexuais e uma mulher lésbica, sentados em roda, em que uma pessoa dá as boas vindas aos presentes:
- Muito boa noite e sejam bem vindos! Eu sou o Rui e sou um Distraído Anónimo!...

domingo, 8 de dezembro de 2013

Donos da razão!

- O Pai Natal, não existe. – diz-me arrogante como se eu fosse burro.
- Existe, existe! – respondo incrédulo.
- Tu é que és burro! – diz-me aquele pirralho.
- Não! Tu é que és burro.
- Tu é que és!Seu nabo!
- Se eu sou nabo, tu és burro e nabo!
Enquanto nos gladiávamos com palavras, os corpos iam-se aproximando.
- Tu é que és burro e nabo!
- Seu burr…
E os corpos encostam-se e a gadulha começa!
Em criança era assim que no recreio da escola, decidíamos quem tinha razão. Sem a arte do argumento, quem tinha razão era o mais forte, ou mais gordo…eu nesse tempo tinha a vantagem do peso sobre os outros meninos e quase sempre tinha razão, como nesse dia! O Miguel voltou a acreditar no Pai Natal.
Apesar de ser por volta dessa altura que começámos a ter as nossas tendências profissionais, e a escolha recaía, invariavelmente, sobre ser piloto de rallies, jogador da bola, polícia, bombeiro, eu cá queria ser alpinista, fruto do encanto de um programa que dava aos sábados à tarde, que se chamava “A conquista do Everest” e conheci um miúdo que queria ser palhaço, mas o que todos inconscientemente queríamos era simplesmente ter razão!
Era de prever que com o tempo, o caminho estreito e correcto para a busca da razão fosse encontrado…mas ao que parece, continua desconhecido. Para o Miguel isso pouco importa porque aquela lição na primária fez-lhe encontrar a ilusão de ter razão, não defendendo nada, apenas descredibilizando os outros…é agora um importante líder parlamentar e continua a acreditar no Pai Natal!
Mas passados muitos anos eu e uma grande maioria, que já não acreditamos no Pai Natal, continuamos a rondar a Razão, usando fórmulas, quase ou tão infantis como as usadas em criança. Há quem A puxe para si, falando mais alto e por cima dos outros ou quem os diminua nas suas capacidades físicas (esta é a minha fórmula preferida e ontem fiz uso dela).
Estava num jogo de bola e vendo o caso mal parado, quando sofro uma falta a meio-campo, peço penalty. Perante a gargalhada do adversário, chamei-os de cegos…e convenci-os disso! O penalty foi marcado mas, com razão, fiquei chateado com a falta de seriedade do adversário.
Para me animar, um amigo de equipa, diz-me, “No fim, vou levar-te a um sítio!”.
Arrancámos e andámos muito, não sei o nome do local, mas era bem longe da Trofa e completamente estranho. À entrada do edifício, por cima da porta, uma faixa com a inscrição “Speed Dating com a Razão”, que não deixava dúvidas de que não estava num restaurante…pena, porque estava cheio de fome. Entro e rapidamente me apercebo de que a sala está cheia, aos poucos vou passando os olhos pelas caras e conheço muitas delas, principalmente do Facebook, que se indignam ferozmente nas redes sociais com qualquer contrariedade como se isso lhes valesse a Razão…deixei-me estar num cantinho.
Os encontros, apesar de rápidos, fizeram-me esperar muito tempo. Fui o último a entrar na sala onde iria ter a minha hipótese com a Razão. Sentei-me e Ela olhava para mim sem nenhum tipo de cansaço na expressão, ao contrário de mim, e olhava-me serena e firme. Tentei disfarçar a insegurança e lancei um olhar sensual, treinado em casa desde há muito tempo, e uma posse igualmente fabricada, cujo binómio julgo irresistível! Ela fez um sorriso triste, apercebendo-se da falsidade da pose, que de seguida fechou e de expressão imóvel cai-lhe uma lágrima pelo rosto. Percebi que aquela lágrima não era por mim, mas por todos que lá passaram, e não A conseguiram seduzir!
Saio da sala e ao fechar a porta, volto a olhá-La e vejo-A abraçada à Racionalidade.

Vim embora a pensar se os outros teriam visto o mesmo que eu!

domingo, 1 de dezembro de 2013

Alimentar o ego.

-Ui! Quem é aquele?! Ah, Sou eu! – os ombros tombam derrotados e o corpo perde a postura.
Este é quase sempre o pensamento no meu primeiro momento de semi-consciência do dia após sair da cama, quando me olho ao espelho.
Necessitado de um sopro de estímulo para encher o ego, volto ao quarto, sempre em estado de semi-consciência, e sacudo a Cristina, minha mulher, mesmo sabendo do perigo que corro ao tentar acordá-la, enquanto dorme como um anjo (lembram-se do que a miss Piggy fazia ao sapo Cocas? Quando contrariada, pregava-lhe um chapadão com a parte de trás da mão e o pobre do sapo desaparecia a voar)!
- Uh, uh,…morzinho!
Em resposta ouço um grunhido e insisto:
- Morzinho, quem é bonito? Sou eu, não sou?
Em resposta, e contra o que fazia prever, em vez de um lançamento de braço à minha cara, ouço:
- Deixa-me dormir. – e vira-se para o outro lado.
De regresso à casa de banho, olho para uma fotografia minha, com muitos anos e, “Que bonito”, pensei!
Tomo banho e regresso o quanto antes para a frente do espelho ansioso por ver a minha imagem renovada. Entusiasmado, fico à espera cerca de cinco minutos que o espelho desembacie. Aos poucos a minha imagem vai aparecendo reflectida e:
- Ooooooh! Deve ser da barba!
Decido apará-la e abandonar o aspecto de pato. Ligo a máquina que encostada à pele vai abatendo pêlo a pêlo, dando-me um gosto especial quando são os brancos a tombar. Terminado o abate piloso, o sorriso que se fazia adivinhar, fecha-se. Estava muito melhor, mas não estava um cisne, “É das brancas que já tenho no cabelo!”, pensei.
Vesti-me decidido sobre o que fazer, iria ligar à dona Tininha, minha mãe. Deixei o telefone tocar meia dúzia de vezes, e não me atendeu.
Saio de casa para um passeio matinal. Apesar do frio, gosto destes dias luminosos, cujos raios carregam os níveis de serotonina, e aos poucos me fazem pensar, “Que interessante que eu sou!” e prossigo o passeio com um sorriso parvo, que supera o de Bridget Jones, ajudado pelo facto de ter passado por três idosos, com mais rugas do que eu, nitidamente.
Já a manhã estava a terminar decido ligar novamente à minha mãe…o mesmo, não me atendeu. Estranhei, porque o que ela mais gosta é de estar e conversar com os filhinhos!
Vou para casa, ansioso que cheguem as cinco horas.
A essa hora, pego no saco e vou para a minha futebolada com a malta…é o momento que mais gosto da minha vida. Sou o segundo mais novo, o mais rápido, o mais bonito, o mais elegante e com mais cabelo. Estamos todos em campo, eu mais feliz que os outros, e o gordo e anafado do Joca não aparece. Com menos um, o Toni pede a um jovem se quer jogar. Ele aceitou e foi o pior que aconteceu, apesar da minha equipa ter ganho! Passei a ser o terceiro mais jovem, deixei de ser o mais rápido e o mais elegante, não tinha menos cabelo, mas tinha mais brancas…quanto a ser mais bonito, estava ansioso por falar com a minha mãe.
No final, e depois do banho, saio do ginásio e de carro vou directo para casa a ouvir “Joy Division” e a esvaziar-me de auto-estima! Entro de gatas e ligo o computador à procura de uma fotografia minha, quando jovem, para “postar” no facebook, na esperança de receber muitos “likes”, para recarregar o ego. Não existia, estavam todas no meu álbum de fotografias de papel (que é como eu gosto de as ver e de ler os livros) …pois, já tenho alguma idade!
Com a lágrima quase a rolar pela face, ligo à minha mãe e ela atende:
- Mamã, quem é o mais bonito do mundo?
- És tu e o teu irmão, meu filho!
- Sim! Mas o mais bonito e interessante? – insisto.
- Sois os dois! – responde-me.

Por último, vale-me sempre o facto de, no fundo, no fundo, ser muito convencido e a “crista” acaba por se levantar.

Qualquer semelhança entre esta estória e a realidade, pode não ser pura ficção.

domingo, 24 de novembro de 2013

A vida é um jogo.

O sábado é para mim um dos dias mais amigos, mesmo quando começa mal, como aconteceu este fim- de- semana.
O despertador toca às sete da manhã. Consciente do seu significado, estico as pernas, sacudo a cabeça na almofada… e o fim-de-semana que nunca chega.
- Alto, mas hoje é sábado. – pensei.
O corpo volta a encolher e mantém-se fofinho debaixo dos cobertores e a cabeça volta a “acamar” na almofada com um sorriso de menino que se deixa adormecer a pensar na futebolada dessa tarde, às cinco horas, com os “marretas” dos amigos!
Todas as actividades domésticas e de lazer, até às quatro e meia, são executadas com parte (quase todo) do pensamento virado para o jogo. Devo dizer-vos que mesmo quando estou em viagem e no melhor dos sítios, às cinco da tarde de todos os sábados, desejo estar no pavilhão do liceu da Trofa, para uma hora de intenso pontapé na bola.
O que acontece durante essa hora vou omitir, para que os caros leitores e amigos não fiquem a pensar, “Este gajo tem a mania de que é o melhor!”…mas curiosamente sou!
Muitas vezes, a futebolada é seguida de uma ida à tasca “Canzoada”, cujos donos, a dona Natália e o Sr. Manuel, são amigos de infância dos nossos pais. Ele não nos deixa passar sede e a dona Natália, não nos deixa passar fome!
É o nosso “sítio mágico”, onde deixamos de ser crescidos, de ser casados (a não ser que a mulher ligue a perguntar: – Demoras?), de ser pais, onde nos desligamos da posição profissional que cada um ocupa de segunda a sexta e esquecemos o politicamente correcto, que ficou há muito à entrada do ginásio para o jogo de futebol. A cabeça volta a ser pré-adolescente e a de alguns até infantil, onde a amizade basta e voltamos a descobrir o mundo! Ontem, já proibidos de soprar ao balão, ouvimos a história sobre um ex-gay e descobrimos que a mulher quanto mais velha, melhor…
Já atestado e num estado quase a roçar a má disposição, apesar da insistência de alguns para acabar de ver o FCP versus Nacional, despedi-me.
Parecia estar a sair de uma cena suave do “Feios, porcos e maus” mas mesmo assim sentia-me demasiado bonito para me esconder já em casa. Com vontade de uma comédia romântica, parei no café S. Martinho.
Entro e encosto-me ao balcão, lá dentro a sala está cheia.
- Café, Calheiros?
- Sim, David.
Ponho-me de lado para o balcão e fico de frente para uma das televisões sintonizadas no FCP versus Nacional. Por baixo dela, uma mesa, onde estavam sentados um rapaz e uma rapariga, novinhos…se calhar no primeiro encontro.
O FCP controlava o jogo e sem ela ver, ele mantinha as mãos debaixo da mesa, desassossegadas  de nervosismo. O Nacional não conseguia sair da defesa e o sorriso tremia, sem se conseguir manter firme, o FCP reparou nisso e sentia-se seguro e senhor do jogo, fazendo juz à tez morena e cabelos pretos ondulados.
Quando desviava o olhar da televisão para aquela mesa, nunca o via a falar… adivinhava-se uma goleada do Porto. Ela estende os braços pela mesa, e deixa uma mão próxima da dele.
“Põe a mão em cima da mesa e encosta-a à dela!” – Torcia eu, como se estivesse a jogar aquele jogo. Como sportinguista, queria muito que o Nacional empatasse, e acontece aquele momento.
Aquele momento em que ela lhe faz uma pergunta, o miúdo abre a boca e penso que o vou ver finalmente a falar, mas o Nacional perde novamente a bola e o Porto carrega mais uma vez….
Aquela menina, por quem era capaz de me apaixonar se tivesse dezasseis anos, massacrava aquele rapaz perguntando e respondendo por ele. Não entendia porque tinha ela saído com ele! Mas enfim… os jogos têm que ser jogados, senão perdemos por falta de comparência!
Cansado de ver um jogo em sentido único, paguei o café e fui embora com dúvidas se haveria um beijo nessa noite!

Quando chego a casa, deito-me e ligo a televisão para me ajudar a adormecer. Quando vou a cerrar os olhos passa em rodapé, “Nacional empata no Dragão”. Adormeci como acordei, encolhido e fofinho debaixo dos cobertores e a cabeça “acamada” na almofada com um sorriso de menino, que conseguiu um beijo nessa noite, que vai guardar para toda a vida!

sábado, 16 de novembro de 2013

E a Trofa também é minha!

Bom dia amigos(as), o texto deste fim de semana, vão encontrá-lo no blogue eatrofaeminha, cujos administradores tiveram a gentileza de me convidar para escrever. Foi um prazer ter participado neste projecto sério e independente sobre a realidade trofense. Espreitem em,
http://eatrofaeminha.wordpress.com/

domingo, 10 de novembro de 2013

Vendedor de sonhos.

No parque estão dois palanques montados, cada um deles com as cores do seu respectivo partido. Neste cenário, há o facto bizarro dos dois comícios estarem marcados para a mesma hora!
À espera dos discursadores, candidatos a um cargo que interfere directamente com a vida das pessoas dessa terra de que não me lembro o nome, e nem sei se existe, está a população ainda mais bizarra do que o cenário.
Como não me lembro do nome da terra e nem sei se existe, embora julgue que fique próximo da Trofa, chamemos à população de jupiterianos.
Os jupiterianos são fervorosos adeptos de futebol, cada um com o seu clube, uns gostam mais de Magnum e outros de Perna de Pau, outros ainda não trocam um belo iogurte líquido por nenhum dos outros gelados, há quem goste de homens ou mulheres e quem goste dos dois, há quem goste de ginásio e quem goste de estar parado, há quem goste de se indignar e quem goste de meditar,…, mas o que os distingue dos habitantes das outras terras, apesar de não ter a certeza de esta pertencer ao nosso país, é o facto de nenhum jupiteriano ter partido político e gostar de ouvir a realidade e as verdades dos seus políticos…apreciam neles a honestidade!

Nesta noite de discursos, os jupiterianos não estão distribuídos pelos palanques, mas aproximam-se do que está próximo da figueira, onde começa a horas o discurso de um dos candidatos.
Após a apresentação pessoal, este candidato, chamemos-lhe de “A”, traça a história da freguesia, para dar a perceber em que sentido a terra evoluiu em consequência das políticas tomadas. Ao palanque próximo da pereira chega o candidato “B”, atrasado e sem audiência para quem falar, mesmo assim arrisca: – Boa noite!
Por norma, os jupiterianos não se deixam distrair por atrasados, mas mesmo assim o Antunes olha para a esquerda em direcção ao palanque próximo da pereira e quando avista o candidato “B”, pensa – “Seu anormal! Eu que perdi uma perna numa aposta estúpida, um braço num acidente de trabalho e uma mão por causa de outra aposta ainda mais estúpida, sou obrigado a andar ao pé-coxinho e por isso tomo horas para não me atrasar, mas tu…francamente!” – após este pensamento indignado, Antunes volta-se para a frente e prende a sua atenção ao candidato “A”.
Este continua o discurso apresentando o cenário actual, que compara a uma pega de touros em que os forcados estão de costas para o animal – Temos que nos virar de frente! – diz.
Os jupiterianos acenam em concordância, e o Sr. Antero ainda com mais vigor, motivado pela própria experiência, lembrando o dia em que ao atravessar a estrada, chamaram-no, volta-se, e leva por trás uma trombada de uma motorizada. “Parecia um touro”, diz sempre que lembra o acontecimento. Desde então nunca virou costas ao atravessar a estrada.
Do outro lado, o candidato “B” apercebendo-se que não iria conseguir competir em seriedade, tenta do seu palanque chamar a atenção, dizendo: – Comigo, vai entrar dinheiro fresquinho na casa de todas as pessoas, logo pela manhã, juntamente com o pão quentinho!
Ao ouvirem isto, uma parte dos jupiterianos, que prestavam o máximo de atenção ao candidato “A”, não resistiram em olhar para o outro palanque, tendo alguns exclamado: – O quê?!
Mas perante tamanha baboseira, a atenção revirou-se novamente para o palanque próximo da figueira.
- …e as pessoas vão deixar de pagar renda! – dispara o candidato “B”.
Estas duas baboseiras seguidas, turvou de tal forma a mente de alguns jupiterianos, que uma parte considerável deslocou-se do palanque próximo da figueira para o próximo da pereira, para ouvir o candidato “B”, que tenho a certeza que existe.
Mas o candidato “A”, que acho que não existe, agora com menos gente a ouvi-lo, mantinha o seu rigor, explicando o que se podia fazer com aquilo que se tinha, enquanto o candidato “B”, no seu palanque, garantia haver condições para aumentar o fim-de-semana para três dias e aumentar os vencimentos. Ao ouvir isto, os que ainda se mantinham magneticamente agarrados em frente ao palanque próximo da figueira, mudaram-se para o outro lado, ávidos para ouvir quem lhes apregoava ilusões em forma de realidade, com excepção do Antunes!
- A vida não vai ser fácil! – diz o candidato “A”!
- Comigo, todos vão ter uma vida perfeita! – declara o candidato “B”.
Ao ouvir isto, Antunes “pé-coxeia”, como nunca tinha “pé-coxeado” antes e baba-se em frente ao palanque do candidato “B”.
Pela cabeça de cada jupitureano, passava o que cada um entendia como “vida perfeita”, e abraçavam-se comentando uns com os outros “Agora é que vai ser!”

O candidato “B” venceu, de forma esmagadora, e a vida dos jupiterianos ficou muito, mas muito…

domingo, 3 de novembro de 2013

Social Virtual.

Já era tarde e, também, tardava a fechar o computador. Apesar do dia ter corrido bem na vida real, ao serão ainda não tinha conseguido “postar” nada queriducho, estilo “eu dava a vida pelo pai natal”, ou pseudo-inteligente, do tipo que ninguém percebe, mas onde se faz um “like” por via das dúvidas para não se fazer má figura. Algo que também me estava a deixar tenso era o facto de ainda não ter recebido nenhum pedido de amizade, confirmando a estatística do facebook de um por dia, uma das razões porque abdiquei da realidade, em prol do “social virtual”!
Era já era muito tarde quando “cai” um pedido de amizade. Sôfrego, clico no ícone para avistar o pedido. Era uma figura estranha, com um nome estranho e que vive na Índia. De imediato aceitei aliviado, fechei o computador e fui-me deitar. Este novo amigo relaxou-me o suficiente para não ter que tomar a medicação para dormir: – Obrigado bom amigo! – pensei…

De manhã acordo de um pesadelo, em que estava no meio de uma tempestade, com o sol a entrar pela janela! É sábado de manhã, o momento oportuno para partilhar algo ligeiro e queriducho, que não tinha conseguido postar na noite anterior: – Estava a sonhar com água e está sol…LOL! J.
Fiquei paralisado, sentado na cama, à espera de ânimo para seguir a minha vida! Essa fonte de energia, para carregar as minhas “baterias vazias”, chegou trinta e sete minutos depois, com um “like” do meu novo amigo indiano! Levantei-me, preparei-me e fui até ao café. Não combinei nada com ninguém…aparece sempre alguém conhecido!
Quando entro na pastelaria, lá estavam três amigos, não daqueles “old fashion”, que esboçam emoções quando nos vêem, mas daqueles, do “social virtual”, que nos fazem parecer invisíveis aos seus olhos, mesmo estando ao lado deles. Como mandam as regras destas amizades que nos acrescentam valor, nem nos olhamos!
Já na mesa, a empregada pousa a chávena de café que pedi. Tiro uma fotografia à chávena, que partilho no Facebook com o comentário: – Pedi um café curto e a chávena veio, quase cheia J!
Num curto espaço de tempo, os meus três amigos, espalhados em três mesas da pastelaria, fizeram “like”, ou comentaram a minha fotografia, a que se juntaram mais pessoas comentando que lhes aconteceu o mesmo nessa pastelaria…aos poucos fomos descobrindo que a máquina devia ter um problema de dosagem…e assim fomos trocando opiniões sobre o assunto, enquanto a realidade crua aparecia nas notícias que passavam na televisão!
Lá tomei o café cheio, que tinha pedido curto, paguei e saí, sem olhar os meus amigos!
No regresso a casa, cruzo-me com o Joquinha, amigo de adolescência, que rasga um sorriso e me cumprimenta com alegria. Envergonhado e olhando para o chão, digo-lhe: – Tudo bem? – e apresso o passo. Continuo a minha caminhada e já recomposto do triste episódio, vejo que em sentido contrário vem a Lurdes, minha amiga virtual e com quem nunca falei pessoalmente, como mandam as regras.
Depois de nos cruzarmos, ela a olhar para a direita e eu para o ar, ouço um berro. Olho para trás e vejo a Lurdes deitada, agarrada à perna. Volto atrás, “saco” de telemóvel e com um braço por cima da Lurdes e virado para a câmara, com um sorriso bonito, tiro uma fotografia e sigo caminho. Durante o trajecto “posto” a fotografia com a mensagem: – A Lurdes está deitada, com um entorse, na Avenida da Estação Nova. Bora lá ajudar, agradeço a partilha!
Este meu gesto, fez-me sentir bem e leve, e foi suficiente para não me deixar abater pelos cinco mendigos e crianças a chorar, por quem me cruzei a seguir...
Durante o dia as partilhas foram-se sucedendo e já ao final da tarde, o Telmo, cuja amizade estamos a tentar recuperar, após o ter cumprimentado quando nos cruzamos na rua, depois de uma amizade solidificada no “social virtual”, “posta” nova fotografia da Lurdes, com a mensagem: – A Lurdes já não está no mesmo sítio! Arrastou-se e continua agarrada à perna no Largo de S. Martinho! Partilhem.
Novamente ansioso, desta vez para recuperar uma amizade, partilhei a fotografia da Lurdes, para ajudar o Telmo a sentir-se bonzinho!

Sorte da Lurdes em ter-nos como amigos!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Aniversário/Advertising.

Hoje, 25 de Outubro de 2013, faz um ano que “postei” o primeiro texto, “Sábado, dia porreiro!”, neste blogue, “Escrita com Norte.”.
O nome do blogue surgiu, porque obviamente é escrita, e porque quem escreve (eu) é do Norte (Trofa) e pretende ter norte nas ideias. Este trocadilho, meio enigmático, género Dan Brow, dá estilo e é bonito…achei eu, e continuo a achar!
No dia em que o anunciei ao mundo (entenda-se grupo de amigos facebookianos), através desta rede social, foi da seguinte forma:

“Boa noite a todos, tendo 38 anos e para o ano fazendo 40, esta conta baralha-me a cabeça, porque deita por terra a certeza do 1+1=2.
Mas o que me confunde mais são os comentadores de televisão e bloguers, uma boa parte ex-políticos, que ajudaram a afundar o país, a dar palpites salvadores! Como tal, e sendo um pouco mais responsável, acho-me no direito de palpitar e publicar as minhas tretas no blogue que criei, com um pormenor de classe…tretas diversas, sobre o mundo, o país e a minha rua!
Convido-os a visitar o endereço www.escritacomnorte.blogspot.pt, e a palpitar.

Obrigado pela atenção!”

Mas a verdadeira intenção, não era mostrar ao mundo (entenda-se grupo de amigos facebookianos), que sou uma pessoa de extremo interesse intelectual e que tenho opinião sobre tudo. Porque isso, nós portugueses, temos gravado a ferros quentes nos nossos genes, e alguns com uma capacidade de indignação de fazer inveja ao Francisco Louçã ou a um qualquer político de oposição!
No dia 25/10/2012, estava a ser preparado o lançamento do meu 1º livro, e até agora único, com o título “Venceslau e outras histórias.”, que aconteceria em Dezembro, e por esta altura já me começavam a perguntar como era.
Para não cair no exagero dos opostos, ou seja, não ser demasiado modesto, ou demonstrar total falta de modéstia, a falar do livro que estava para vir, criei este blogue, arranjando forma fácil de responder à pergunta: - Como é a tua escrita?
Perante a pergunta, convido as pessoas a visitar o blogue e a descobrirem como escrevo, por si próprias!

O livro “Venceslau e outras histórias” é constituído por três histórias, a primeira, “Venceslau Júnior”; a segunda, “Zé Musgo” e a terceira “Eça Opes” com muitas outras personagens que interagem com as principais!
Há pouco tempo, um amigo conhecedor do livro, comentou que ler este livro é como “ir na auto estrada a 120 km e de repente meter marcha atrás!” Parece estúpido? Parece! Mas mergulhando no livro, entramos num mundo em que o absurdo faz sentido.
Deixo-vos duas, das várias críticas, que recebi, a primeira de um conhecido e a segundo de um desconhecido, que fez chegar a sua opinião até mim:

“A primeira das três estórias já li. Foi muito bom rir sozinho enquanto me tentava colocar naqueles lugares tentando ajustar cada personagem a uma realidade que de facto existe. A originalidade da viagem que o José Calheiros faz até ao mais simples do nosso povo e da nossa sociedade está surpreendente, recomendo que não percam e não deixem de comprar, é uma forma divertida de ver o que de mais genuíno existe. Todos temos em nós um pouco de Venceslau, e se não temos devíamos ter.”

“Um dia destes fui à Baixa do Porto e dei comigo a descer à zona da Ribeira. Já algum tempo que não ia lá, mas tinha ainda muito presente as imagens criadas pelo livro “Venceslau e outras histórias” de José Calheiros. As imagens são de tal forma reais, que me vi, quase inconscientemente, à procura do bar da “Associação dos Passarinhos de Miragaia”. Esperava encontrar lá os amigos Travassos e Peiroteu a conversarem com o Venceslau, com três minis á frente.
Percorri as ruas lentamente a pé, e esperava a todo o momento encontrar o Venceslau Júnior a “roçar o rabinho” nas esquinas, ou a Rosa (não sei porquê, imagino a Rosa, gorda, de buço, de leggings rosa, a mostrar umas curvas disformes e barriga empinada).
O que quero dizer, é que este livro somos nós, ou melhor, o lado “tosco” e risível de nós. Rimo-nos a valer porque reconhecemos as personagens, da as termos visto alguma vez, passando por nós, quase invisíveis. “Elas” existem e José Calheiros deu-lhes visibilidade da melhor forma, com um sentido de humor deveras singular.”

Uma semana após o lançamento da minha OBRA, como lhe chamam na editora, e já me tendo esquecido de muitos pormenores das histórias, li-o como se fosse a primeira vez e não conhecesse o autor. Tentei manter o distanciamento possível, para ter uma opinião honesta, e agora, sem receios de exageros, posso dizer que o livro, como escrita de entretenimento, é muito bom!

Quem ainda não leu e estiver interessado em adquiri-lo, pode falar comigo, pois tenho sempre alguns exemplares, ou pode fazer a compra on-line, através da Wook, da Bertrand e ainda pela Fnac. Também está à venda em algumas livrarias tradicionais. O preço de venda é de 11 €.

Se o blogue ainda não “morreu”, é graças à minha vontade de escrever e a vós, que o ledes.


Obrigado a todos pela receptividade e agradeço que partilhem!

domingo, 20 de outubro de 2013

Quase que chegava atrasado!

Estava na fase entre o sono e o despertar, aquela que não sabemos se estamos a dormir acordados ou a sonhar que estamos despertos e apercebo-me de três barulhos, o miar das minhas gatas, o toque do despertador, que por norma me obrigam a sair da cama, mas o outro som, o da chuva a cair lá fora, que me faz desejar que esteja a sonhar que estou acordado! Mas num vislumbre de realismo lembrei-me – Tenho consulta no hospital!
Passo por um momento de ódio ao mundo, que dura sete segundos, e pincho da cama, muito mais reflexo de uma obrigação do que de uma vontade.
São oito horas e doze minutos, lavo a cara, tomo o pequeno-almoço, lavo os dentes, visto-me, dou de comer à Clarinha e à Julieta, as minhas gatas, e vou rápido para o hospital, onde tenho consulta às nove horas.
Já no hospital sou atendido por uma menina, que me pede para aguardar que me chamem, ao fundo do corredor.
São oito horas e cinquenta e oito minutos e já estou na sala de espera. Quase que chegava atrasado!
Poucos momentos depois, abre-se uma porta, de onde aparece uma outra menina, que chama:
 – Sr. José… - “Sou eu!”, pensei, e a menina prossegue - …Vasques! Sr. José Vasques!
- Não, não! Sr. José…Sr. José Calheiros! – Digo eu para a menina, corrigindo-a.
Pelas minhas costas aparece um senhor de idade:
 - Sou eu, menina!
- Faça o favor de entrar, Sr. Vasques
Olho para o relógio. São nove horas e três minutos e pensei, “Devem chamar-me a seguir!”.
A mesma menina, mas por vezes outra, abriam a porta e chamavam sempre, ou por uma senhora, ou por um José, que teimava em não ser Calheiros…e eu continuava à espera!
As pessoas eram atendidas e iam-se embora, outras chegavam e eu continuava à espera. Este jogo de cadeiras na sala de espera do hospital da minha terra parecia mais uma actividade de tempos livres para idosos, fazendo com que eu, com trinta e nove anos, me sentisse um puto.
No vai e vem de gente, naquela sala, nem uma mulher jovem e gira, para eu encher o “papo” e me sentir apreciado e melhor passar o tempo…sim, vivo nesta ilusão, fruto de meia dúzia de elogios recebidos entre 1989 e 1993.
São dez horas e vinte e cinco minutos, e por detrás da porta aparece novamente a menina, a chamar:
- Sr. José…
E eu completo - …Calheiros. José Calheiros!
E a menina continua -… António Azevedo.
Ainda não era a minha vez. E cansado de estar de pé, sento-me; e cansado de estar sentado, levanto-me, e por mim passa a Dona Rosa, pessoa que quando fico até mais tarde no trabalho, aparece para limpar o gabinete.
- Olá, bom dia! – Cumprimenta-me.
- Olá Dona Rosa, por aqui?! Está tudo bem?
Após esta pergunta inocente, carregada de boa educação e acompanhada por um sorriso, Dona Rosa metralha-me com todos os seus problemas de saúde (como se lhe dessem algum conforto e sentido à vida), mais os da sua cunhada, que ainda consegue estar em pior estado!
- Sr. José! Sr. José Calheiros, é a sua vez. – Chama-me a menina, protegida pela porta.
Depois de ouvir a Dona Rosa, hesitei em responder ao chamamento da menina…sentia-me com saúde para dar e vender, mas lá entrei, já sem saber do que me queixar ao Sr. Doutor!

Saí do Hospital da Trofa às dez horas e quarenta e nove minutos. Dos três encontros marcados para depois da consulta, o primeiro dos quais ás dez horas, cheguei atrasado, tendo estas pessoas chegado atrasadas ao seus compromissos posteriores.
À noite nas notícias, ouço, “Barack Obama, está há três horas, à espera de Sérgio Humberto, candidato vencedor à Câmara da Trofa, para uma reunião!”.
Ups, ainda bem que não cheguei atrasado…à consulta!

domingo, 13 de outubro de 2013

Politicamente (in)correcto.

Zé Nabo é um homem responsável, que zela pela família e tenta transmitir os mesmos valores que recebeu de seu pai, o respeito pelos outros e a ter uma vida honesta, sem enganos. Abomina de tal forma a mentira, que ainda hoje tem dificuldades em adormecer, pelo facto de um dia um estranho lhe perguntar o caminho para o registo civil e ele dizer para seguir em frente e virar à direita na quarta rua, quando deveria virar na quinta.

Como pensa que um país é como uma casa, e vendo o que se passa com o seu, de fronteiras escancaradas, sempre que sai de manhã com a sua família, fecha as janelas e tranca a porta.
Num fim de tarde, quando chega a casa com a família e está a abrir a porta, é interpelado por Álvaro, dirigente de uma ONG, de barba, cabelo despenteado e camisola de bico com um padrão aos losangos, que se faz acompanhar de um “farrapo”, nitidamente consumido pela droga.
- O senhor é o dono desta casa? – Pergunta em tom arrogante.
- Sim! – Responde Zé Nabo, admirado com a intervenção daquele estranho.
- Pois é! Está a ver este jovem? – Pergunta, apontando para o toxicodependente.
- Simmm!
- Ele, hoje, tentou assaltar a sua casa, mas como vocês têm tudo fechadinho, ao forçar a janela o vidro partiu e cortou-se na mão. Teve que receber tratamento hospitalar! – Diz Álvaro, irritado.
- Ui, é melhor chamar a polícia! – Diz a Sra. Maria Nabo, assustada com a ideia de intrusos no seu lar.
- Polícia, minha senhora?! Os senhores vão é pagar os tratamentos deste jovem desgraçado e não fosse o seu bom coração, iriam ter problemas em tribunal!

Depois de entregar o dinheiro do tratamento e de pedir desculpas, para evitar danos psicológicos no toxicodependente, entra em casa atordoado com a bizarria da realidade.
Sem jantar, vão todos dormir, porque certamente estavam a ter um sonho colectivo e o melhor sítio para o viver é na cama e pela manhã ao despertarem, tudo teria passado!
Uma hora depois de o novo dia ter começado na casa do Zé Nabo, toda a família sai aprumada. Zé Nabo fecha a porta à chave e ao dirigirem-se para o carro, a família ouve:
- Com que então a trancarem a porta?! É mesmo para complicar a vida aos desgraçadinhos…bando de insensíveis!
Quando Zé Nabo, a esposa e os dois filhos olham na direcção da voz, vêm Álvaro e são puxados para o mundo real, que lhes tinha parecido um sonho, no dia anterior!
- Mas o que é que o senhor quer? – Pergunta Zé Nabo, num misto de irritação e desapontamento.
Na realidade, Álvaro, queria manter o “tacho” que lhe dava alguma importância na ONG, porque nunca se conformou com o trabalho apagado, mas sério, na fábrica onde trabalhava.
- A sua família está referenciada como “desconfiada” e …”racista”! – Determina Álvaro.
- Desconfiada e racista?!!! Eu tranco a casa para proteger o que é meu!
- Não, não! O senhor tem maus instintos ao querer complicar a vida dos mais necessitados! – Diz Álvaro, prosseguindo – Quer que outro drogadinho aleije a mãozinha ao entrar em sua casa? Por que razão quer complicar o assalto dos ciganinhos, para lhe roubarem a roupa, para venderem na feira, ah? Só quer que a sua vida corra bem? E os ilegais, sem emprego?! Como quer que comam se lhes tranca a casa?
- Mas a casa é minha?!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- ABRA JÁ A CASA, PARA OS DROGADINHOS E AFINS, SEU INGRATO…E PONHA-SE A ANDAR. – Ordena Álvaro, com o corpo esticadinho.
Num instante, como quem recebe a ordem de uma patente militar superior, abre a casa e ausenta-se, desta cena de filme, com a família.
À noite, chegados a casa, ouvem imenso barulho. Quando entram na sala, está acampado um clã cigano a festejar um casamento, avançam na casa e os quartos estão tomados por ilegais africanos, e de leste, e sul-americanos…, na casa de banho encontraram mortos-vivos de seringas penduradas nos braços. Na casa, o único espaço de vago é a cozinha e é de lá que telefonam à polícia de onde respondem:
- Caro senhor, compreendo a sua preocupação, mas da parte da tarde recebemos uma chamado do Sr. Álvaro, a transmitir que “desgraçadinhos coitadinhos” encontraram a dispensa fechada! Tivemos que ir aí arrombá-la. Para a próxima deixe tudo aberto, Sr. Zé Nabo, poupa trabalho a todos. – Responde o comissário de serviço.
A família Nabo, instala-se na cozinha e tenta adormecer depressa, com o desejo, mais forte do que nunca, de que tudo aquilo seja mesmo um sonho.
Pela manhã, em vez de acordarem ao som do despertador, acordam sobressaltados com os berros de uma mulher, a gritar- SANGUE! SANGUE! SANGUE!...
Zé Nabo, abre uma frincha na porta da cozinha e vê, a correr pelo corredor, uma cigana de idade, com um lençol manchado de vermelho. Volta a fechar a porta e virado para a família, diz – Não morreu ninguém, a noiva era virgem! Vamos embora depressa!
Saídos de casa, a vontade era a de regressar o mais tarde possível. Só quando já não aguentam o frio da noite, regressam a casa. A algazarra continua, e os Nabos seguem o corredor directos ao único espaço que não está tomado, a cozinha. Estranhamente, por cima da porta está instalado um reclame luminoso com caracteres esquisitos!
Zé Nabo abre a porta e vê meia dúzia de chinocas a bater umas cartas e uma roleta a girar na marquise…a cozinha está transformada em casino. Zé Nabo olha para trás e das paredes do corredor desapareceram as fotografias de família e dos seus antepassados. Roubaram a sua história e agora sem espaço para eles, sentem-se uns estranhos na própria casa! Foram dormir para o quintal.
No dia seguinte o ritual desta estranha realidade, repetiu-se. A família saiu logo pela manhã e Zé Nabo apercebe-se da presença de Álvaro, que pergunta a alguém:
- Estão a ser bem tratados?
Ao qual, esse alguém responde – Os donos da casa olham para nós com cara de esquisitinhos!
- Pois é! Depois não querem que vocês sejam uns revoltados…discriminados desta maneira! Mas a minha ONG está aqui para vos proteger. – Conclui, seguro, Álvaro.
Nessa noite, quando chegam a casa, os Nabos, arriscam espreitar se têm um lugar na própria casa. Quando entram no corredor, vive-se um ambiente de guerra, pelos desentendimentos de pessoas tão diferentes. Assustado com o cenário, quando antes os desentendimentos naquela casa, eram meras discussões porque deixava um chinelo fora do sítio ou um raspanete aos miúdos, Zé, mais num acto irreflectido do que racional, grita – PAREM! Saiam já da minha casa.
De inimigos, os ocupantes da casa unem-se e “apertam” a família Nabo, que sentindo-se ameaçada, consegue escapar para dentro da dispensa, levando consigo um livro de história!
- O que vamos fazer? – Perguntam os filhos.
Zé Nabo abre o livro e lê-lhes “…confinados a um buraco na montanha, lutaram, liderados por Pelágio, rechaçando o inimigo ocupante. Desta maneira se formou o Reino das Astúrias e se iniciou a Reconquista Cristã, isto é, a recuperação dos territórios em poder dos Muçulmanos. A Reconquista cristã, durou oito séculos, cheios de guerras, mas também de periodos de paz.”

Cinco dias depois, os Nabos, liderados por Zé, já controlavam a dispensa, a cozinha e os quartos, vivendo neste momento um período de relativa paz com os ciganinhos, ocupantes da sala, e com os toxicodependentes, ocupantes da casa de banho. Álvaro, para manter o “tacho” na ONG, é agora um acérrimo defensor dessa minoria…os Nabos!

domingo, 6 de outubro de 2013

Há branco e branco, há que tentar...e errar!

Há uns anos atrás, aliás, há uns bons anos atrás, ainda no tempo do escudo e ainda não se imaginava que ele iria acabar, estava eu numa loja dos “Trezentos”, onde, coerentemente, tudo era vendido a trezentos escudos, e encontro numa estante, uma cestinha com um cacto e uma flor ao módico preço de cento e cinquenta escudos.
- O preço está certo? – pergunto à menina que está por detrás do balcão, na esperança de que ela dissesse que tinha havido um engano e que tudo era a trezentos.
- Sim, sim, é esse o preço. – responde-me.
A minha vontade imediata foi abandonar a loja…nunca gostei de incoerências. Para isso, que se chamasse loja dos “Preços variados até trezentos escudos”, mas em vez disso, fui assaltado por um rasgo de romantismo juvenil e comprei o cestinho, tão bonito…e baratinho.
Fui oferecê-lo à minha namorada, de sorriso na cara!
- Toma, é para ti! – digo, com um tom de voz pró-melado e de braço estendido com o cestinho bonito e baratinho, na esperança de resgatar um beijo apaixonado!
- Que feio! – responde-me.
Compreendo que o cestinho, olhando bem para ele, era mais barato do que bonitinho, mas não era preciso tamanho realismo!
Naquele momento precisava de um amigo, daqueles a quem oferecemos coisas e está tudo bem, porque o que conta é a intenção e logo depois esquecemos a prenda e perdemos-nos a falar de miúdas e algum futebol.

Anos mais tarde, a namorada tornou-se esposa, admirável pela postura, pelo realismo, que faz com que não confunda as prioridades e não se zangue se me esqueço do seu aniversário…porque para ela, mais importante do que as datas, é o dia-a-dia!
Ufa, ainda bem, porque nunca me lembro do seu aniversário, nem mesmo do meu, que me é recordado pelo telefonema da minha mãe, desejando-me os parabéns e fazendo-me lembrar que a minha existência é das coisas mais importantes para alguém!
Como tal, não temos datas, ansiosamente esperadas, como se não houvesse antes e depois desse dias especiais…
Mas…há um dia no ano, em que ela me diz:  – Sabes que dia é amanhã?
Esse dia de amanhã, é o dia do nosso casamento, que sei que é em Setembro, mas não me lembro do dia, apenas sei que é no dia seguinte ao dia em que me diz: – Sabes que dia é amanhã? – que de forma inteligente relembra, evitando dramas!
Mas é precisamente aqui que o meu drama começa. Se a Cristina, mesmo sem lhe dizer nada, acerta naquilo que quero, ou preciso, as minhas escolhas costumam ser um tiro ao lado, que a psicanálise explica pelo trauma que vivi na adolescência, com a compra de um cesto com um cacto e uma flor, por cento e cinquenta escudos, numa loja dos trezentos, para oferecer a uma miúda com bom gosto! Foi a tempestade perfeita, que muitos, por muito menos se metem na droga.
Mas desta vez, quando diz a frase que insinua que amanhã fazemos anos de casados, estamos em frente a uma loja de malas. Fina como o Rato, aponta para a estante principal e diz: – Gosto muito daquela mala!
Ouço e comento com os meus botões: - É desta que vou acertar.
Sossegado ,iria passar na loja no dia seguinte, porque a estante estava cheia de malas iguais e todas…brancas!
Ah, é hoje! No fim do trabalho passo na loja e digo à senhora, apontando para a estante – Quero uma mala branca!
Sem eu perceber patavina, a senhora da loja em vez de tirar a que está mais à mão, tira a terceira mala, a contar da esquerda, da terceira prateleira!
Ao pôr a mala num saco, eu peço:  – Embrulhe, por favor!
Dirijo-me para casa, com um sorriso de orelha a orelha. Quando chego a Cristina já está pronta para sairmos…vamos jantar fora.
- Morzinho, isto é para ti!
Ela sorri, adivinhando que a prenda é a mala que ela apontou na montra da loja.
- Pousa a prenda no quarto. Abro quando chegarmos! – diz-me
Possuido de ansiedade por, pela primeira vez em dezassete anos desde a loja dos trezentos,acertar numa prenda oferecida à minha mulher, peço-lhe: – Abre agora, abre, abre!
Perante a insistência ela tira o embrulho da saca, abre-o, e: – A mala é bonita, mas não era esta que eu queria! – diz-me.
- Ui, mas é a mala branca que apontaste na montra da loja!
- Eu apontei para a mala branco pérola, que estava ao lado da mala branco sujo, na quarta prateleira…tu trouxeste-me a mala branca!

Fui apontar o tom de branco que ela quer, para no dia seguinte passar na loja, para trocar!

domingo, 29 de setembro de 2013

Daniel, o vampiro (parte III).

Daniel sabia que a reeleição para um segundo mandato, não iria ser fácil. Não pelas subtracções consideráveis ao erário público, que lhe permitiram ter a mais bela casa da freguesia, férias de sonho e deixar de trabalhar, mas pelo facto de ter aparecido um candidato jovem e cheio de ideias fantasiosas.
Se por um lado era confrontado pelo eleitorado por aquilo que não fez, por outro era esmagado pelas promessas megalómanas do rival.
Quando recebeu o relatório do último comício do seu mais directo oponente, Daniel exclamou: – O gajo ou é esquizofrénico ou mente com todos os dentes!
Nas promessas registadas nesse relatório, constavam entre outras, a realização do próximo Mundial de Futebol na freguesia, visto que as conversações com os dirigentes da FIFA estavam bem encaminhadas, garantindo trabalho para os sete desempregados da freguesia durante a construção dos estádios e levar o primeiro português à lua, que seria sorteado entre os habitantes da freguesia. Mas o que mais impressionou Daniel, foi a distribuição de autocolantes, com a imagem do candidato em alto-relevo, com cores florescentes…Daniel não sabia que este acessório eleitoral, de extrema importância, poderia atingir tamanha beleza!
De emergência, reuniu a sua equipa para traçarem um plano. Unanimemente, a equipa concordou que o candidato Daniel, teria de mentir ao eleitorado mais e melhor. Mas como conseguir isso? Nessa reunião, tudo ficou decidido!
No dia seguinte, logo pela manhãzinha, Daniel faz uma hemodiálise política (troca de sangue bom, por sangue desonesto), ritual que iria manter diariamente até ao final da campanha, da parte da parte foi ao seu dentista, para colocar uma placa por cima dos seus dentes naturais, ficando com mais dentes, que o seu opositor, para mentir mais e melhor… e todas as noites infiltrava-se na casa dos eleitores para ouvir o que eles diziam durante os sonhos!
No penúltimo dia de campanha, cruza-se com Altino, o mendigo da zona, que aproveita para lhe pedir uma esmola, e Daniel aproveita para convencê-lo a votar nele enquanto lhe tenta roubar as esmolas, sem sucesso, porque o mendigo está atento. Após este acontecimento, rapidamente corre o boato de que o candidato Daniel, além de prometer, tentou roubar quem tem menos do que ele. Ganha fama de verdadeiro político e a caravana da sua campanha de rua aumenta a olhos vistos, chegando por vezes a ter mais de dez elementos, incluindo dois cães vadios, o Velhinho e o Leão, que gostam é de festa! A disputa entre os dois candidatos, além de ser um caso de polícia, é titânica, mas o último e derradeiro trunfo eleitoral estava guardado para o comício de hoje, último dia de Campanha. São 22h17m, no palanque está Daniel, e atrás de si, todos os elementos integrantes da lista.
Após a actuação de um jovem saxofonista, Daniel inicia o discurso derradeiro, preparado por ele e seus pares, inspirado no discurso da última Miss Universo!
- Minhas caras eleitoras e meus caros eleitores, estamos hoje aqui para reforçar as linhas gerais da minha candidatura. Eu quero paz para o mundo e a libertação da Palestina. Queremos acabar com a fome em África e… – É interrompido por dona Ermelinda.
- Carago! E a fome em minha casa, que é mais próxima, não queres acabar, oh, oh, nabo, hein?
- Mas não era uma banda gástrica que queria, Dona Ermelinda? – Pergunta Daniel.
-Quero! – Responde Dona Ermelinda, encolhendo os ombros – Como é que ele sabe! – Diz para si mesma.
Aproveitando a oportunidade, Daniel prossegue: - E estou em contacto com técnicos da NASA, para instalarem uma estrutura de lançamento de foguetões…AQUI, NA FREGUESIA! Feliz, Caninhas?
Ir à lua é o sonho de Caninhas, eleitor que ficou tolinho depois de uma depressão, por se ter agarrado demasiado aos estudos, para um teste da terceira classe. Já lá vão 30 anos.
Entretanto, Leão e Velhinho, começam a ladrar.
- Au, au, au, au, au, au, au…
- Prometido. – Garante, entusiasmado, Daniel.
- Eu quero uma marquise, com umas cortinas em renda e as beiras com folhos! – Pede um estranho, de aspecto muito…enfim, com sapatilhas cor-de-rosa, calções de ganga e camisa sem mangas!
- Mas tu não és da nossa freguesia…hummmm…prometido! – Garante Daniel, prosseguindo – E para ti, Hugo, vou financiar-te uma confecção, com duas empregadas ucranianas, dois rolos de ganga, para fazeres calças, e três rolos de popeline, para fazeres batas!
- Sonho todos os dias com isso! – Diz Hugo, em lágrimas
- Euuuu seeeiiiiiiii! – Diz Daniel, entre dentes, para si mesmo.
Daniel, “adivinhou” e prometeu a concretização do sonho de todos os outros presentes no comício!
O fecho deu-se com mais uma actuação do jovem saxofonista, que arrecadou aplausos da multidão, mais de sessenta seres vivos, incluindo, o Velhinho, o Leão e algumas plantas, que embelezavam o palanque!
Dois dias depois foram as eleições. Como nada de realista foi apresentado pelos candidatos, sem o povo dar por isso, ganhou quem ofereceu os autocolantes e bandeirinhas mais bonitos!

Os políticos continuaram a não concretizar as fantasias que prometeram e o povinho continuou a chamá-los de mentirosos…até ás próximas eleições!

domingo, 22 de setembro de 2013

José, o Vaidoso!

José sempre foi vaidoso. Esta vaidade nunca se limitou ao aspecto limpinho, mas prolongava-se na ostentação do que tinha, ou não, para se mover num meio, que na cabeça de José, naturalmente não era o seu. Com 1,75 metros tentava dar passos do mesmo tamanho, que os seus “vizinhos” de 1,85 metros!
Durante a sua vida empresarial iniciada em 1974 (é detentor de uma empresa têxtil, a “Batas de Portugal”), todo o lucro, sempre foi gasto em férias, uma casa com sete quartos, apesar do agregado familiar ser composto por quatro pessoas,…, e carros. Nem as duas crises severas porque passou, lhe fizeram parar para mudar de estratégia na empresa, nem alterou os seus hábitos, para que noutros momentos de aflição, a “Batas de Portugal”, tivesse dinheiro em caixa, para não pedir auxílio financeiro a estranhos!
Como a memória de José é curta, ele já não se lembra desses graves momentos, por isso a humildade nunca abafou, nem um pouco que fosse, o pecado mortal, a Vaidade!
Mas a esposa de José, sabendo que a “Batas de Portugal” tem cada vez menos encomendas e os mesmos custos fixos, apesar de ficar a pensar quanto lhe perguntam quanto é 2+2, facilmente se apercebeu que os lucros estavam a baixar.
Começou a perguntar ao marido sobre o estado da empresa, já que o dinheiro gasto no que era preciso e esbanjado no que não era, continuava sem travão. Perante as perguntas da esposa, José sempre afirmava, com toda a convicção do mundo, que tudo estava bem e que nada era preciso mudar na vida deles! Confiante que assim era, o ritmo das idas ao cabeleireiro, mantiveram-se, as roupas caras para os filhos, também, e José continuava a trocar de carro, sempre que um modelo novo saía!
Certo dia, seriam uns poucos antes do fim do mês, José foi levantar dinheiro com o cartão, para pagar ás funcionárias. Além de não ter dinheiro, ainda devia uma fortuna ao Banco!
Aflito e sem saber o que fazer, vai depressa para a cabeleireira, aonde estava a mulher, e:
- Não trates do cabelo nem arranjes as unhas…não há dinheiro!
Agarra-a pela mão, mete-a no carro e pergunta:
- Os nosso rapazes, onde foram?
- Estão na Fashion Store, onde está à venda aquele modelo novo de calças…caaaaras, como um raio! – responde a mulher.
José acelera em direcção á loja, onde os filhos estão a experimentar as calças e obriga-os a entregá-las.
Já em casa, explica à família que não têm dinheiro. A esposa e filhos perguntam como tal aconteceu, quando no dia anterior ele dizia que tudo estava bem!
 - Eu não sei! – responde admirado, encolhendo os ombros.
No dia seguinte, José foi ter com uma amiga de infância, a Ângela, que tinha imigrado para a Alemanha há muitos anos atrás, e estava de férias no nosso país. Ângela empresta dinheiro a pessoas em dificuldades, de toda a Europa, tendo-se inspirado na Dona Branca.
- Ângela, preciso de dinheiro. A “Batas de Portugal” faliu e a minha família também! Não percebo!
- Se não percebes, és mesmo nabo! – diz a Ângela, prosseguindo – Se gastas muito mais do que ganhas e vives com dinheiro que não é teu, um dia ias falir.
- Poça, como é que eu não percebi! – exclama, batendo com a palma da não na testa – Mas eu tenho três ou quatro vizinhos que vivem assim?!
- Vão falir ou já faliram. E Já me vieram pedir dinheiro e outros hão-de vir. – esclarece a Ângela.
A conversa continuou e José concordou que a vida que leva só cria dívida e, caso não mude, emprestar-lhe dinheiro é o mesmo que deitá-lo fora. Acordaram que José tinha que ter uma vida que desse lucro, que lhe permitisse pagar o empréstimo, para tal tinha que redimensionar a “Batas de Portugal”, mudar-se para um apartamento, vender alguns dos carros, despedir as duas empregadas domésticas,…
O empréstimo iria ser dado por partes. A Ângela não é burra e quer garantias para o seu lado.
Após a primeira "tranche", a família de José deixou a casa de sete quartos e mudou-se, não para um apartamento, mas sim para outra casa, com piscina, mas menos dois quartos. Como a casa continua grande, mantiveram as duas empregadas domésticas e venderam dois carros, para “atirar areia” aos olhos da Ângela. Quanto às mexidas na “Batas de Portugal”, estas tardavam.
Influenciado por uns vizinhos que vivem no lado esquerda da sua rua, José teimava em não reduzir o numero de funcionários, já que o volume de negócios só lhe permitia ter seis…tem quatro a mais!
Dias depois, ao cruzar-se com o Semedo, o vizinho que vive mais à esquerda na rua, este pergunta-lhe:
- Então, já recebeste mais alguma parte do empréstimo?
Quase a babar-se, José responde que sim.
- Então, não queiras mais nada com a Ângela. Fica com dinheiro e não pagues!
Novamente possuído pela alergia da “memória curta”, José esqueceu-se que ele é que pediu o dinheiro e liga para a sua “amiga”:
- Ângela? Sou eu, o José!
- Olá José, o que queres?
- Uma coisinha rápida. Vou ficar com o dinheiro que me emprestaste e não vou fazer nada daquilo com que acordámos!
Após estas palavras e ainda sob os efeitos da “memória curta” e dos conselhos dos vizinhos do lado esquerdo, José desliga o telefone e sente-se novamente Vaidoso!

José acabou a viver debaixo da ponte após a falência total da “Batas de Portugal, Sociedade Limitada”, enquanto os antigos vizinhos do lado esquerdo da rua vão-se safando, com o “enterro” dos outros!

domingo, 15 de setembro de 2013

Ida à praia (parte II).

Ajusto novamente o despertador para as sete horas. Como sempre, a ideia é acordar cedo para aproveitar a melhor parte da praia, a manhã.
Mal pouso o despertador na mesinha de cabeceira, ouço um respirar arrastado e profundo. Ao pensamento de que a Cristina já estaria a dormir, precisava de confirmação.
- Morzinho? …Morzinho?...Estás a dormir? – pergunto, quase em segredo.
- Humnhhmmnhhhrrrrrrhh. – responde a Cristina a uma pergunta que não ouviu e não sabe que respondeu.
Este som/resposta, que se assemelha a um grunhido, é a certeza de que se a casa vier a baixo, ela não acorda.
Levanto-me e num instante saio de casa. Aproveito o abrigo natural da noite e em todas as ruas da Trofa com lojas de decoração, lojas de sapatos e hortos, coloco uma placa a dizer, “Rua em obras, trânsito proibido. Volte daqui a três meses!”.
No final regresso a casa e já na cama, pergunto:
Morzinho? …Morzinho?...A casa está a arder!
- Humnhhmmnhhhrrrrrrhh. – responde.
Suspiro de alívio e deixo-me adormecer!

Uns raios de luz a entrarem pela janela entreaberta, abrem-me as pálpebras, “Já é dia!”, pensei. Olho com mais atenção e vejo a Cristina.
- Olá, bom dia! Hoje vamos cedinho para a praia. – diz-me ela.
- Boa… - e sem me deixar acabar de falar, continua:
- Só tenho uma listinha pequeninha de alguns sítios para irmos antes…fica tudo a caminho.
Depois de arranjados e pequeno-almoço tomado, ao irmos para o carro, a Cristina comunica-me os “antros de vício” onde quer ir, antes de irmos para a praia.
Em todas as direcções que tomámos, à entrada de cada rua havia uma PLACA a indicar “Zona em obras”.
- É impressionante, nunca fazem nada, aproximam-se as eleições e é obras por todos os lados! – exclama a Cristina.
- É, é! Tens toda a razão! Logo hoje que queria ver uns lírios no horto! – respondo.
Sem alternativas, devido às obras na minha terra, seguimos para a praia.

Às nove horas e trinta minutos, já temos os pés na areia no sítio para colocar o pára-vento. Espeto o primeiro pau, depois o segundo, tendo em conta a direcção e velocidade do vento e depois…depois sou interrompido!
- Esse pau...não é melhor ficar colocado um bocadinho mais abaixo? – pergunta a minha senhora.
- Não!
- É, é.
Desenterro o segundo pau e coloco-o um pouco mais abaixo, segundo indicações da Cristina.
- Aqui? – pergunto.
- Não sei! Põe onde quiseres!
Estava com vontade era de ir à água. Mal espeto o último pau do pára-vento, tiro a t-shirt e desato a correr para a água. Como não havia mais ninguém na praia para impressionar, em vez de entrar na água de mergulho directo, molho os pés, as pernas, os braços e depois sim, deixo-me “desmaiar” para dentro do mar.
Quando regresso ao areal, a Cristina ainda está vestida e de pé!
- Esqueceste-te de colocar o guarda-sol! – diz-me.
Entretanto tinha chegado um casal novo, que se estava a instalar um pouco mais a cima, ele a montar uma tenda e ela sentada…e caladinha!
- Está bem, assim? – pergunto relativamente à colocação do guarda-sol.
- Humnhhmmnhhhrrrrrrhh.
Deitei-me na toalha a apreciar o jovem casal. A tenda que ele estava a montar parecia um prédio de três andares e ela, sentada e sossegadinha, mantinha-se calada, certamente orgulhosa do namorado, que monta tendas complicadas!
Estava eu embebecido com aquela imagem romântica, quando o rapaz anuncia:
- Minha querida, a tenda está pronta!
A rapariga, de aspecto doce, levanta-se e:
- Achas que isto tem algum jeito? Para fazeres isto tinha montado eu!
Passaram o resto da manhã à volta da tenda!!!
Quando olho para a esquerda está a chegar um senhor, com a sua esposa e filha. Pousam as tralhas e, enquanto o senhor instala dois pára-ventos e dois guarda-sóis, as mulheres vão mulher os pézinhos e quando chegam, diz a esposa:
- Oh, Carlos! Achas que isto está bem? Muda esse guarda-sol para aquele lado!
- Está bem! – responde o chefe de família, resignado e adaptado à realidade.

Na minha toalha mudo de posição e sento-me, com um sorriso, virado para o mar.