sábado, 29 de dezembro de 2012

Em busca da adrenalina perdida!


Quando ouço falar em adrenalina, chego à conclusão que todos temos mais ou menos o mesmo entendimento da palavra, mas a maioria das pessoas age de forma completamente diferente da minha para a sentir. Essa emoção que nos faz levantar do chão…ou será isso paixão?
A adrenalina anda de mãos dadas com o imprevisto. É esta sensação de imprevisibilidade que nos estimula a adrenalina e nos provoca sensações de “um passo para o abismo”…ou será isso paixão?
E é nas acções para sentir adrenalina que me diferencio da maioria das pessoas e… de alguns animais, como aquele passarinho kamikaze, que na autoestrada fez voo rasante ao meu carro e morreu! Se o passarinho procurava adrenalina, o que lhe aconteceu não foi o “imprevisto”, mas sim o óbvio!
Ou como aquele caso há poucos anos atrás, em que numa noite de verão, três indivíduos, por causa de uma aposta, testam se o carro de um deles atinge os 200 km/h numa recta de fracas condições para a velocidade. A verdade é que o carro chegou aos 200, mas no fim da rceta não curvou nem para a direita, nem para a esquerda e enfaixou-se num muro de betão. Este desfecho não foi o “imprevisto”, condição para que haja adrenalina, mas sim o óbvio…infelizmente com consequências trágicas!
Ou como a Cristina, minha mulher, trava em cima do carro da frente dizendo-me: – Está tudo controlado, sente a emoção!
A verdade é que não senti emoção nenhuma quando o óbvio aconteceu por uma ou duas vezes e ela bateu no carro da frente!
Já para não falar da minha colega de trabalho, a quem por vezes recorro para efeitos de boleia, que faz sete coisas ao mesmo tempo enquanto conduz e com dificuldade aceito que esteja atenta à estrada. Sou o seu anjo da guarda com as minhas indicações, “pára”, “arranca”, “acelera”, “reduz”…ela chama-me de “chato” e atira-me à cara que aqueles são os meus momentos de adrenalina. Em silêncio penso – Se não fosse eu “espetavas-te todos os dias!”.
ADRENALINA, meus meninos e minhas meninas, é o que passo a descrever, um relato da minha viagem vertiginosa para o trabalho:
Ligo o carro e deixo-o aquecer, enquanto espero, coloco o cinto de segurança. Arranco e aproveito a recta que passa em frente a minha casa e chego aos 30 km/h, sou ultrapassado por um indivíduo que conduz feito louco. Um miúdo aproxima-se da passadeira e antecipadamente vou afrouxando, imobilizando o carro a um metro da passadeira, enquanto no outro sentido só ao terceiro carro é que pararam e o miúdo pôde atravessar a estrada.
Desemboco na estrada principal já com o pisca a indicar a minha mudança de sentido. Naquele cruzamento os carros viram nos vários sentidos sem darem o “pisca” e cheguei mesmo a pensar se esta sinalética estava proibida e eu ainda não sabia!
No momento certo arranco e estaciono um pouco mais à frente, com o “pisca” ligado (mas aqui já com muitas dúvidas se estava a proceder correctamente), em frente a uma pastelaria, para tomar o pequeno almoço.
Quando regresso ao carro, outro condutor tentava sair em marcha-atrás do parque de estacionamento, e indiferente ao trânsito ia metendo a “traseira” e provocou um acidente.
Entro no meu carro e só quando sinto liberdade suficiente faço-me à estrada. A minha viagem decorria a uns aceitáveis 40 km/h, ainda dentro da Trofa, dou “pisca”, reduzo para segunda, e com uma perpendicular perfeita, curvo à esquerda, merecendo aplausos dos miúdos que iam para o Ciclo! Entusiasmado, arranco a uns estonteantes e sonolentos 27 Km/h, travando logo à frente, porque os pais dos miúdos têm os carros mal estacionados e “lançam-nos” para a estrada, provocando, não adrenalina, mas as condições óbvias para um atropelamento!
Depois de passar a zona do Ciclo, ousei desviar o olhar da estrada por momentos e liguei o rádio. Um pouco mais à frente, novo “pisca” e estaciono para ir trabalhar!

Meus caros(as), adrenalina é cumprir as regras de segurança e mesmo assim o imprevisto aparecer, porque andar deslocado delas e o acidente acontecer, isso é o óbvio.
O pináculo da adrenalina é ser sportinguista e o meu Sporting, ainda este ano, ser campeão!

Eu vivo no “fio da navalha”! 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Fim do Mundo.


Nos últimos dias falou-se tanto no fim do mundo, que eu próprio, pouco ligado a profecias e a ditos sem fundamento, cheguei a acreditar!
Eram as notícias dos jornais e telejornais que falavam do “Fim do Mundo” de forma ambivalente. Por um lado apresentavam o dito como uma profecia, mas por outro como sendo um cálculo com as bases científicas conhecidas há séculos atrás por essa civilização impressionante, os Maias, deixando espaço à dúvida!
Trazemos às costas a carga cultural de um povo que há poucas décadas era pouco ou nada instruído e que assistia a missas em latim. O obscurantismo e o medo eram dominantes, abrindo espaço amplo para o duvidoso e tomando-o como certo, sem sentido crítico.
Nos nossos dias, as notícias pouco claras ainda levantam receio. Ouvi algumas pessoas afirmarem com certeza – O fim do mundo…Tretas! – mas depois terminavam a sua dissertação com um – E se for?!
Quando foi transmitido um programa no “National Geographic” sobre o Fim do Mundo e como algumas pessoas se preparavam para o mesmo, entrei em choque. Nesse momento convenci-me que ia mesmo acontecer! O que eu recusei, deixei de fazer, deixei de dizer…mas nem tudo é mau, como é o Fim, posso ser excêntrico sem me ter saído o euromilhões!
O tempo escasseava, o Fim do Mundo era já no dia 21/12. Sem perder tempo telefonei para um portista, bom amigo, com quem tinha discutido por ele ter dito que o Sporting até jogava bem!
- Trim, trim,…
- Estou sim?! – pergunta o amigo portista.
- Sou eu! Desculpa ter discutido contigo por causa do Sporting!
- Deixa lá, já passou! Agora concordas que o teu Sporting até joga benzinho? – pergunta o amigo portista.
- Queres trocar? – respondo com outra pergunta.
O amigo portista desligou sem me responder! Chateado, enviei-lhe uma mensagem a dizer que nunca mais lhe falava! Marquei a minha posição a poucas horas do Fim do Mundo.

Estabeleci novo contacto. Liguei ao meu amigo Joaquim.
- Quim, amanhã vou jogar!
- Mas…mas tu já estás bom da tua rutura muscular?!
- Não! Mal consigo andar, mas amanhã vou! – respondo-lhe.
Há três semanas atrás, depois de fazer uma rutura na coxa num jogo de futebol, rasguei-me completamente no dia seguinte, noutro joguinho de bola! Fui obrigado a parar!
Mas não ia perder a oportunidade de praticar a atividade desportiva que mais gosto antes do mundo acabar!

Depois de conversar com o Quim, voltei-me para o discurso que tinha preparado para dissertar nessa noite, numa cerimónia de gala, onde estariam colegas de trabalho e administração, e troquei algumas palavras!
Nessa noite, as palavras trocadas pareciam tiros disparados em todas as direções. Houve muito murmurinho e nenhum aplauso. Nessa noite mais ninguém me falou, mas também não me preocupei porque no dia seguinte ia jogar à bola e no depois seria 21/12, o Fim do Mundo!

O dia 21/12 chegou. Iria passá-lo em casa, a lesão piorara no dia anterior aos trinta segundos de jogo e não me permitia uma locomoção independente! Não tinha importância, aproveitei para empanturrar tudo do que gosto até que o Fim chegasse!

Chegou a meia noite, já estamos no dia 22/12, o Fim do Mundo não chegou e sinto a barriga a rebentar!
Devido a medos e crenças, o que acabou foi o meu mundinho, zanguei-me com um amigo, piorei a minha lesão, segunda-feira vou ser despedido e estou prestes a ter uma congestão!

Gostei de vos conhecer!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Relação a dois!


Na vida das pessoas há coisas que nunca mudam, o clube de futebol é um desses exemplos, mesmo para quem é sportinguista…como eu! Quero crer que os amigos também não. Se dois ou três deles fossem peças de roupa, nunca as mudava, a não ser para as lavar! Um seria a camisa, outro as calças e outro talvez as peúgas…mas nenhum seria as truses. Seriam sempre peças coladas ao corpo e nenhum seria um casaco, isso seria um conhecido!
A famíla, essa não muda! No meu caso ainda bem…este é o meu totobola!
Mas algo que vai mudando na nossa vida até à eleição final, é a nossa companheira…eleição dela, não se iludam!
E esta relação a dois, desde o momento zero até ao fim, vai sofrendo estados de maturação, é algo dinâmico, como a passagem das estações do ano, e imprevisto como a chegada de um temporal numa tarde quente e aborrecida de Verão!
Estes estados de maturação são facilmente observáveis na savana do ser humano, no seu habitat mais natural, o Centro Comercial.
Os casalinhos que se relacionam há semanas, no máximo dois meses, colam-se como se o mundo acabasse dali a três horas. Aproveitam cada dez metros que andam para declarar a sua paixão e cada passo que dão para se lambusarem, atividade que obriga a uma limpeza constante do piso!
O estado mais caricato, é o daqueles casais que já passaram os dois meses de namoro, e já pensam em casar, mesmo estando um desempregado e o outro ainda a estudar e vivem na ilusão. Estes encontro-os facilmente no IKEA, ainda juntinhos, mas em vez de se lambusarem admiram com um sorriso, um quebra-nozes e sonham, “Vamos precisar de um assim!” Estes ainda têm a certeza absoluta de que vão ficar juntos para sempre!
Na prateleira ao lado, onde este casal admira o quebra-nozes, podemos encontrar a fêmea de outro casal, a observar um serviço de pratos, enquanto o macho, se inquieta e suspira, sem se distânciar muito da fêmea. Este estado de maturação é crucial na relação do casal. São jovens adultos com uma relação entre sete meses e um ano e meio, em que o macho já se atreve a levantar a voz e a comentar sobre outra rapariga…um jogo perigoso…para ele! É a altura em que o macho vive no fio da navalha e tenta tomar pulso na relação. É nesta fase que a relação acaba ou ardilosamente a fêmea faz o macho pensar que manda e a relação fica condenada a durar!
Eu pertenço a esta última classe, pensei que mandava! A fase seguinte do macho deste casal é um confronto gradual com a realidade, semelhante ao degelo, que pode demorar décadas em que nós, machos, nos apercebemos que pouco mandámos! Mas há vantagens!
No sábado passado, ao final da tarde, eu e minha senhora fomos ao Mar Shopping, ela queria ir ao IKEA. Este estado de maturação permite-nos que ela vá para o IKEA e eu me enfie na FNAC e mergulhe nos livros. Só há uma regra, o primeiro a sair da sua loja vai ter com o outro. Normalmente prefiro esperar pelo telefonema da Cristina e “banhar-me” o máximo de tempo possível nos livros!
Trimmmm, trimmmm. – atendo o telefone. É a Cristina a dizer que já saiu do IKEA…fui ter com ela.
- Vamos embora, isto está cheio de gente! – diz ela.
Adorei a ideia e reparei que o carrinho das compras vinha recheado.
Arrancámos em direção ao parque de estacionamento e dois metros à frente, diz ela: – Só vou a esta loja e venho já!
Estúpido, caio sempre na conversa de que vamos logo embora. Fiquei cá fora, agarrado ao carrinho de compras, a observar… e via casais de todas as espécies. Ainda é com encanto que observo o casal clássico, aqueles que estão juntos há mais de cinquenta anos, e passeiam distanciados vinte metros um do outro, ela atrás e ele á frente, com o pensamento, “A velha nunca mais morre!”
Começo a olhar para as outras montras e vejo homens no mesmo estado de maturação que eu, expressões fechadas e com olhares constantes para dentro das lojas a observar se a companheira já está na caixa para vir embora!
A Cristina sai da loja de decoração e diz-me para irmos embora. Com agrado apresso o passo e duas montras á frente ouço: - Só vou a esta loja, é rápido!
Estúpido, caí outra vez na conversa de que íamos embora. Fiquei novamente cá fora, agarrado ao carrinho de compras. Curiosamente vi os mesmo homens, parados como eu, mas em frente a montras diferentes.
Conclui que eu e esses homens pertencemos à classe de casais em que parecemos peças num tabuleiro de xadrez, somos movimentados de montra em montra! Olhava e via um peão, um cavalo, um bispo, uma torre e consolava-me pensar que era o rei do tabuleiro comandado pela minha rainha!

sábado, 8 de dezembro de 2012

Hoje não há texto.


Pois é amigos e amigas, esta semana não escrevi nenhum texto, mas não por ter perdido a vontade de escrever ou o entusiasmo por publicar no blogue. A razão é simples, ando entusiasmado com o lançamento do meu livro, que já aconteceu, mas não desocupa quase todo o espaço do meu pensamento. A primeira vez que me senti assim, foi aos doze anos, quando fui prestar provas aos iniciados do Trofense, e depois de um treino com um desempenho mais ou menos, o treinador pede para no próximo treino levar o B. I. e duas fotografias…senti que iria ser um grande jogador…e a minha mãe também!
A intensidade do entusiasmo que neste momento estou a viver é igual, mas não julgo que venha a ser um grande escritor…apesar de a minha mãe ter achado imensa piada ao livro sem o ter lido! Agora que o começou a ler, acha ainda mais…deve pensar que estou lançado!
Com o passar dos anos nunca perdi o entusiasmo naquilo que gosto de fazer, mas as expetativas tornaram-se mais realistas e a esperança e orgulho da minha mãe em mim continuam sem esmorecer!

Nestes ultímos dias tenho usado e abusado do Facebook para divulgação do meu livro e qualquer conversa serve para promover “Venceslau e outras histórias”.
Ontem, da parte da manhã, um colega, tristonho, comenta – “ O meu cão partiu a patinha!”. Eu, sem perder a oportunidade, tento animá-lo, perguntando-lhe - “Já compraste o meu livro?”
Da parte da tarde, já no ginásio, um amigo, revoltado, comenta que tem de gastar 500€ no conserto do carro, e eu, tentando mostrar que também há coisas agradáveis na vida, pergunto-lhe, - “Já que falas em gastar, já compraste o meu livro?”.
Eu nunca fui à tropa, mas infelizmente tive bons amigos que lá andaram. Agora comparo-me a esses amigos, que quando chegavam à terra no fim-de-semana, só falavam no “raio” da tropa e tudo era pretexto para falarem dela!

Como ainda não terminei esta minha “recruta”, já penso nas próximas ações para divulgação do livro, usando as tecnologias ao dispor em proveito próprio. Sinto-me um Murdoch ou um Berlusconi, controladores dos media dos seu países, com a única diferença de que não sou rico e relativamente ao Sr. Berlusconi, não me relaciono com raparigas quarenta anos mais novas. Não quer isto dizer que quando tiver mais de sessenta anos, esta ideia não me passe pela cabeça, mas de momento, cientificamente é impossivel, devido aos meus trinta e oito!

O livro “Venceslau e outras histórias” é constituído por três histórias, a primeira, “Venceslau Júnor”; a segunda, “Zé Musgo” e a terceira “Eça Opes” e muitas mais personagens que interagem com as personagens principais!
Há pouco tempo um amigo conhecedor das histórias comentou que ler este livro é como ir na auto estrada a 120 km e de repente meter marcha atrás! Parece estúpido? Parece! Mas mergulhando no livro, entramos num mundo em que “meter a marcha atrás” faz sentido.
Eis o início das três histórias:   

“Venceslau Júnior sempre que se deitava na cama
tinha um sonho ambicioso. Desejava um dia ser ladrão
de primeira, já que até agora limitava-se a ser ladrão de
segunda. Assaltava carros estacionados em segunda fila
no cais da ribeira. Não foi para isto que Venceslau Roma
educou Venceslau Júnior.
Venceslau Roma tinha sido um ladrão de primeira na
Foz, onde roubava carros legalmente estacionados em
primeira fila e com ticket de parquímetro,
por essa razão achava que por actuar sobre a legalidade, roubava legalmente!
Venceslau Roma nunca conheceu seus pais, era um
“self made man”, que ambicionava o melhor para o seu
filho Venceslau Júnior, mesmo que as probabilidades de o
filho ser seu, fossem escassas.
Certa tarde de primavera, durante um assalto a um
Renault 5 GT Turbo, Venceslau Roma deslocou o pulso,
quando estroncava a porta do carro. Dada a gravidade
deste acidente de trabalho, Venceslau Roma viu-se obrigado
a deslocar-se ao centro de saúde de Miragaia, onde
lhe foi aconselhado repouso absoluto, e não falar, durante
dois dias. Chegado a casa, Venceslau Roma deitou-se e só
mexeu os olhinhos durante o tempo de repouso aconselhado.
Num determinado momento do repouso, uma
desconhecida entrou em casa com um miúdo estranho pela
mão e diz – este é o nosso filho, tem oito anos. Agora toma
conta dele até aos dezasseis, depois venho buscá-lo e fico
com ele até aos vinte e quatro. – e foi-se!”


“Zé Musgo é fino como um rato, literalmente. Cara
fina e longa, nariz comprido e pontiagudo, orelhas grandes,
mas muito burro e é contemporâneo de Venceslau Júnior.
Apesar do declínio latente da família, Zé Musgo era
vaidoso, pelo nome que carregava e tinha um enorme
fascínio pela fama. Enquanto o seu amigo Venceslau Júnior
tentava fazer assaltos de segunda, Zé Musgo já fazia
tentativas sérias para ficar famoso e tentar que o seu nome
ficasse gravado nas páginas da história!
A sua primeira tentativa foi andar a mais longa
distância possível, nas águas do rio Douro. Zé Musgo
sabia que tinha havido uma tentativa, devidamente alcançada,
há mais ou menos dois mil anos, registada num livro
não oficial de recordes. Zé tinha a certeza, de que se houve
um gajo que já fez isto, ele também conseguiria!
Todo o processo de candidatura é tratado e chega o
grande dia. Primeiro domingo de Agosto, céu limpo e o rio
está flat. A zona ribeirinha de Miragaia está apinhada de
gente. Numa mesa junto ao rio, os quatro membros pertencentes
ao júri internacional do “Guinness Book of
Records”, um Nepalês, que pedia na rua onde mora Zé
Musgo, uma Brasileira, prostituta em Paranhos, um Chinês,
que pretendia abrir um armazém em Miragaia e um
Americano, artista de stand up comedy, de nome George
Bush.”

“Eça subiu a pulso na vida. Foi abandonado pelos
bisavós paternos, depois de ter sido abandonado pelos avós
paternos e primeiramente pelo pai, depois de este ser abandonado
pela mãe!
Aos catorze anos vivia sozinho debaixo do tabuleiro
da ponte D. Luís. Pensou em ter um cão vadio para lhe
fazer companhia, mas com receio de ser abandonado desistiu
da ideia. Aos dezoito já sabia contar até 5 e aos vinte e
dois vivia no alto da escarpa dos Guindais. era uma
caminhada em direcção ao céu.
Eça era na realidade Leça, mas apresentava-se sempre
como Eça, porque tinha um problema de fala e não conseguia
dizer os L’s. Sempre que lhe perguntavam o nome,
ele respondia – Eça, Eça Opes. – Eça vivia num barraco
T0, com meio tecto, uma televisão pequena com antena
interior, e sonhava ter uma parabólica, para apanhar canais
de Wrestling e de filmes porcos. Uma terça-feira, ao ver o
Telejornal, ouviu falar em congelamento de salários, e com
apalermada perspicácia, associou ao documentário que
tinha visto pela manhã em que falaram na era glaciar, logo
deduziu: Vem aí outra. Nessa noite, Eça põe 15 € de lado,
para na manhã seguinte ir comprar um cobertor e se
sobrasse algum ia tomar café a uma esplanada.
Eça acorda e liga a televisão para lhe fazer companhia
enquanto se prepara para sair. No momento em que aperta
o primeiro dos três botões que ainda sobram na camisa,
Eça depara-se em frente à televisão, porque estava a
começar o Boletim Meteorológico! – Para hoje e o resto
da semana, vamos ter sol e aumento da temperatura… –
eis o que Eça ouve.
Sentiu-se desnorteado. No dia anterior tinha ouvido
falar, na televisão, em congelamentos e hoje ouve falar
em sol e aumento de temperatura!
– A televisão está avariada! – Pensou. Em pensamentos,
conseguia dizer os L’s.”

Se tiveram pachorra para chegar até aqui, obrigado! Para a semana voltam os textos!

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Os gatos também miam!


Quando fui buscar uma gatinha bébé, a uma associação de protecção de animais, a assistente pergunta-me:
- Sabe que os gatos miam?!
Não tendo percebido a pergunta ela explica que no dia anterior foram entregar um gato, porque miava, e um cão, porque fazia cócó!
Perante esta novidade, hesitei e pedi se podia lá passar no dia seguinte. Atarantado, fui depressa a uma loja de chineses, para comprar um gato de porcelana…não havia.
A empregada da loja mostrou-me, em alternativa, um Dálmata em porcelana lustrosa, mas o meu olhar recaía sobre um Falcão em barro a bom preço e com a garantia de que não fazia barulho nem satisfazia as suas necessidades fisiológicas…o horror surgiu quando a empregada me diz que se a peça cai, desfaz-se em cacos! O que eu sofreria depois de ganhar afecto ao Falcão em barro…!
Estava dividido entre um animal, que estranhamente reage fisiologicamente como nós e uma peça de porcelana, que caindo parte-se em mil pedaços.
Fui pesquisar e aprendi que no mundo animal, os seres emitem sons para comunicar e demonstrar sentimentos e curiosamente todo o animal que se alimenta e hidrata, tem um sistema digestivo e urinário por onde expele e desintoxica o corpo!
Fez-se luz, aqueles pedaços de lama, de formas variadas, que ocasionalmente calco, afinal são cócós de animais! Pus todo o meu calçado a lavar!
Com urgência, fui falar com a minha mãe que recentemente tinha adoptado uma gata. 
- Mamã, a gata caga! - anuncio-lhe com uma certa aflição e com uma linguagem nada cuidada.
- Tento na língua, Zé! Claro, e tu borravas-te todo quando eras bébé, mais do que a Camila (a gata)!
- E não me devolveste? – pergunto, espantado, com tanta informação nova.
- Devolver a quem? De volta para o escroto do teu pai, em forma de espermatozóide?!
Após alguns argumentos e contra argumentos com a minha mãe, percebi que as pessoas de quem mais gostamos dão trabalho para cuidar, mas é recompensador, e isto aplica-se aos animais, também!
De regresso a casa, paro a olhar para o Falcão em barro, instalado na montra dos chineses e a pensar “Que boa companhia esta ave me faria!”.
Entretanto sinto um respirar ofegante. Olho para baixo e vejo um cão de porte médio, a olhar para mim, de língua de fora e com uma expressão de compaixão, como se tivesse pena de mim:
- Eu vivo melhor do que tu, cão! – digo-lhe, sem que ninguém tenha reparado.
No caminho de casa faço nova paragem, desta vez na associação de protecção de animais e enquanto espero entra um jovem, casado, a devolver uma gata, explicando que ele até gostava mais ou menos da gata mas…fazia chichi, para pena dele e da mulher! A assistente recebe a gata e afasta-se, lamentando-se. Este jovem há pouco tempo tinha devolvido um pássaro e desta vez devolve uma gata!
Para mim abriu-se uma janela de oportunidade e pergunto:
- Sra. Assistente, posso levar um animal à experiência? Pode ser que tenha a sorte de levar um animal que não faça barulho, nem porcarias!
A assistente, cansada destas situações, telefona para uma clínica psiquiátrica, para denunciar o meu caso, mais um de Estupidez Compulsiva, dos vários que acontecem naquela associação.
Com receio do internamento, corro para casa, e a 2 metros e 58 centímetros da porta de entrada, tropeço e caio. Quem passava ria-se, e eu envergonhadamente, deitado, mexia os braços e as pernas, para me certificar dos danos motores no meu corpo. De repente sinto uma lambidela no braço…era o mesmo cão que me mirava na montra dos chineses e me lambia a ferida…o único ser que passou por mim e em vez de se rir, auxiliou-me!
Olhei para o cão e perguntei-lhe:
- Queres entrar?
O cão, com os olhos, respondeu-me: - Se não me voltares a abandonar!

Desde então percebi que as notícias de homens a maltratarem o seu semelhante e os animais a darem a vida pelos seus donos, não é ficção!
Desde então percebi que aquele cão nunca iria retribuir o mal que lhe pudesse fazer e sempre gostaria de mim, incondicionalmente!

No dia seguinte, com certeza, fui à associação de animais buscar a gatinha bebé!

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Estórias do dia da Greve.


Venâncio Neves é um jovem, na casa dos trinta anos, pouco amigo do trabalho, que por achar o seu nome pouco jovem, quando lhe perguntam:
- Como te Chamas?
- Eu sou o Quim Zé! – responde.
De tanto ouvir falar na falta de emprego, ele próprio se queixa, mas sem nunca ter procurado trabalho e nem mesmo emprego…chegou a ponderar seguir “artes circenses” no ”Chapitô”, mas atirar bolas ao ar com mestria malabarista causa-lhe tonturas!
Venâncio Neves, ou melhor, o jovem Quim Zé é um ser com um ideal político romântico…é apologista da corrente “Paz e Amor” numa sociedade aberta às drogas e ao álcool e de um Estado com uma estrutura de apoio social forte a pessoas como ele, que à semelhança de outros bons filhos da sociedade tem uma caraterística identificativa…Quim Zé é um revoltado com tudo, apesar dos pais nunca lhe terem faltado com o que é importante…comida, cama, carinho e educação!

Hoje é 14 de Novembro de 2012, dia de Greve Geral. Quim Zé acorda bem cedo com o barulho que os pais fazem ao sair para trabalhar. Vira-se para o outro lado e continua a dormir.
O Sr. João e a Dona Augusta trabalham juntos, numa empresa de transportes. À chegada, são travados por um piquete, que no desempenho do seu direito à greve, querem forçar o Sr. João e a Dona Augusta, ao dever da mesma. Amedrontado, o casal avança para o local de trabalho debaixo de alguns insultos, com a consciência e alívio de que desta vez até correu bem…não foram insultados mais de três minutos, nem foram alvo da brincadeira de infância “estátua para todos”!

Estamos a meio da manhã e o país está atrasado. Ninguém chegou a horas ao trabalho nem às aulas e o Sr. Manuel Portugal perdeu mais uma consulta, que para seu azar, calha sempre em dia de Greve Geral... A Greve começa a ter os resultados de sempre…tramar a população! O Sr. Manuel Portugal virá a falecer na próxima Greve Geral…desculpem…na próxima consulta perdida!

São 14H30M, Quim Zé após o almoço, vai ter com os amigos Antero Cunha e Armando Alves, que preferem ser tratados por Luís Vaz e Zé Maria e partilham o ideal de uns sustentarem os outros, em que eles têm o direito a ser sustentados, mas cumprem o dever de se sentirem indignados!
Fumam uns charritos e bebem umas Super Bock’s!

São 16H, os pais de Quim Zé estão a poucas horas de terminar o dia de trabalho. Nas avenidas de Lisboa uma torrente de “formiguinhas” manifesta-se, comandada pelo novo galo, o Arménio, que de crista ao alto, cimenta as suas patas no poleiro, enquanto as “formiguinhas” mais privilegiadas gritam mais, como se fossem mais injustiçadas que as outras! Quim Zé e os amigos divertem-se na esplanada a ver o galo da capoeira e seu exército de “formiguinhas” a passar!

São 19H, Quim Zé regressa a casa para jantar. Os pais só vão chegar às 23H30M, devido à falta de transporte, estafados e a pensar já no dia seguinte de trabalho.
Quim Zé espera até às 19H30M e quando se apercebe que não vai jantar uma refeição quente feita pela mãe, revolta-se. Coloca uma máscara do Pato Donald, utilizada no carnaval de 1988 e vai para a frente da Assembleia da Republica, onde já estão alguns mascarados a atirar pedras à POLÍCIA DE CHOQUE. “A mãe destes também não lhes deve ter feito o jantar!”, pensou Quim Zé, e começa a apedrejar a Polícia!

Como ir ao cinema é caro, um novo hobby surgiu, que consiste em ir para a Assembleia da República no final das greves e manifestações assistir ao espetáculo da “calhoada” á Polícia!
A assistência ia crescendo, como que a concordar com aqueles atos. Quim Zé e os outros mascarados sentiam-se animados/incentivados para continuar a agredir a autoridade e a destruir o que é de todos e que todos vão pagar!
Quim Zé sente um toque nas costas. É um senhor que assiste a tudo avidamente, de mão dada ao filho, a alertá-lo:
- Ó jovem indignado, aquele polícia ali ainda não levou com nenhuma pedra da calçada! Só levou com garrafas!
- Ai não! Vai já levar com algumas! – responde Quim Zé, prosseguindo – Obrigado, meu bom homem!

Neste momento o cenário é constituído pelos mascarados, a atirar pedras à POLÍCIA DE CHOQUE, os voyeurs da selvajaria, que se vão acumulando atrás dos mascarados, a POLÍCIA DE CHOQUE nos degraus da Assembleia da República e lá dentro os (i)rresponsáveis do país!

XXHorasYYMinutos, após aviso, a POLÍCIA DE CHOQUE avança! “Carga brutal”, afirmam os voyeurs, que já não podem assistir ao espetáculo descansadinhos como quem vê um filme no cinema, e que não percebem o mal de ser apedrejado!
Estas pessoas que assim se divertem alimentam o que há de pior na sociedade, e argumentam ao estilo dos espetadores não assumidos do “Big Brother”, condenando e criticando os arruaceiros, mas não resistindo a assistir a tudo com voracidade e deleite, criando público para mais um “Big Brother”!

Entre os mascarados, os voyeurs da selvajaria, os políticos e a polícia…são estes últimos, quando precisamos de auxílio, que acabamos por chamar!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

National Geographic.


Desde que me lembro como pessoa, sempre gostei muito de animais, mesmo daqueles mais feios, que de tão feios até os acho bonitos…só não gosto da classe de animais que deseducam as crianças e maltratam os outros animais!
Mas os que mais me fascinam, apesar de não darem ao rabo, nem me lamberem a cara, são as aves. Apesar de ter os pés bem assentes na terra, ao observá-las, sinto-me a kms do chão e deixo-me levar…mas rapidamente me perco no meu voo sonhador! Aí me pergunto”Como é que elas atravessam continentes, sem se perderem?!”.

Esta pergunta foi o gatilho para um estudo que fiz para a National Geographic, sobre a passarada que vive e que atravessou Portugal nas últimas décadas.
Convém esclarecer que as migrações são fenómenos voluntários e intencionais com carácter periódico, com o objectivo de encontrar alimento e boas condições meteorológicas (este parágrafo é plágio).
No séc XX, até à década de setenta, a ave mais comum em Portugal era o Tuga Manso, de penugem negra e cinzenta, que se reproduzia em larga escala. Curiosamente, ao contrário das outras espécies de aves, na altura das migrações, apenas uma parte da população Tuga Manso migrava, tendo como principal destino as terras de França e Alemanha, ou então atravessava o Atlântico para o Brasil ou Venezuela, baralhando completamente os cientistas que estudavam as rotas migratórias. A ave Tuga Manso, ao contrário das outras espécies, não migrava em grupo, nem para o mesmo sítio, com a bizarria de que as aves que se instalavam em França, ficavam com um chilrear estranho!
Em meados dos anos setenta, um parente próximo do Tuga Manso, que tinha iniciado migrações décadas antes para países da costa africana, faz um voo de retorno a Portugal. Refiro-me ao Tuga Manso Africanus, uma ave com penugem de coloração mais clara, que devido à falta de alimento e destruição dos seus ninhos por parte da passarada autóctone africana, foi obrigada a “dar à asa”!
Durante as décadas seguintes instalam-se em território nacional as espécies Tuga Manso, Tuga Manso Africanus e o Mocho Africano, espécie autóctone de África, que perseguiu o Tuga Manso Africanus, e o sempre presente desde há séculos em território português, o Melro Cigano, com um “cucurruuuu!” de fazer inveja por esses galhos fora!
Com o passar do tempo as duas primeiras espécies misturam-se, constroem os seu ninhos e continuam a procriar, enquanto o Mocho Africano penica como pode, e o Melro Cigano aproveita a ausência do Tuga Manso para ir comer ao seu ninho.
Na segunda metade dos anos oitenta e durante toda a década de noventa, ventos fortes vindos do centro da Europa, empurravam consigo sementes que pousavam em território dominado ainda pelo Tuga Manso. Atrás deste vento que carregava alimento veio a mais famosa ave de rapina de leste, o Falcão Ucraniano e passado não muito tempo a ave necrófaga, o Abutre Romeno.
Na viragem para o novo milénio, todas estas espécies de aves engordavam em Portugal à custa das sementes trazidas pelos ventos, que entretanto deixaram de soprar.
Cientistas famosos, como Cavaco Silva, António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes,…e José Sócrates, sabendo que os ventos não voltavam, irresponsavelmente deixaram o Tuga Manso comer todo o alimento de forma descontrolada e sem garantir aprovisionamento! O Mocho Africano, o Melro Cigano, o Falcão Ucraniano e o Abutre Romeno, à falta de alimento têm sempre o Tuga Manso para bicar e este ao ficar sem recursos não tem outro remédio senão bicar outro da sua espécie!
Tuga Manso fica sem alimento, interage e relaciona-se com as outras aves mas já não procria. Está gordo… e dificilmente consegue voar… e para piorar a situação, em 2011 aparece um novo predador, o Coelho, que se movimenta a Passos largos. Os Coelhos aproveitam-se da fraca mobilidade dos Tuga Manso para os sodomizar. Assustados, os poucos que conseguem levantar voo, aproveitam para migrar enquanto têm o rabinho honrado, para destinos onde pensavam nunca mais voltar.
Em 2012, já não existem Tugas Mansos em território português. As outras aves penicam os restos que ficam e apanham outros ventos que transportam sementes para outros países!

Estamos em 2020, o Tuga Manso é uma ave rara que só existe em cativeiro, nos jardins zoológicos de Pequim e Luanda, e em Portugal a única forma de vida é agora um Coelho, que se diverte com um Tuga Manso insuflável!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

No meu tempo é que era!


Em nome da proteção do indivíduo, do pensamento politicamente correto e da necessidade de criar notícias, as reações das pessoas e instituições perante os mesmos comportamentos, no passado e no presente, são muito diferentes.
Se entrarmos no Delorean, o carro que viaja no tempo do filme “Regresso ao Futuro”, e viajarmos para o passado até ao momento em que quase tudo era diferente, a viagem é muito curta, semelhante a pegar no carro para irmos ao café que fica a 20 metros de nossa casa!
Quando era criança, uma boa parte das mães eram domésticas e por isso mais presentes, ao contrário das mães atuais, que para compensarem alguma ausência, com orgulho dizem que são a melhor amiga dos filhos(as). Mas no meu tempo a mãe era muito mais do que isso, eram amigas e educadoras, que nos tempos atuais se acrescenta o facto de serem profissionais e têm que ser giras e magras. Na escola os professores eram a extensão dos pais, assumindo igualmente um papel educador! Ai de mim se chegava a casa e dizia que a professora me tinha colocado de castigo, ele iria ser prolongado pela minha mãe, e agora, 30 anos depois, há sempre o risco do professor ter uma esperinha à porta da escola!
No meu tempo é que era!

 Ainda na escola, começamos a aprender a sobreviver à selva que são os relacionamentos, e não exagero quando utilizo o termo selva, porque assim o era. Se atualmente as criancinhas já usam as redes sociais e fazem “Likes” aos/às coleguinhas, no meu tempo trocávamos papeis com frases arcaicas, geralmente “Gosto de ti, gostas de mim?” com o pormenor de classe, dois quadrados, um para o “sim” e outro para o “não”, formas primitivas do que viria a ser o “Like”, (por segurança, apenas colocava o quadrado do “sim”). Os intervalos eram momentos de libertação da energia contida, devido à austeridade da professora. Eram aproveitados para grandes correrias sem sentido, como quando tiram a trela a um cão que está preso há muito tempo, para jogar futebol e para pregar uns milhos ao “tótó” da turma…o que na época era uma atividade para passar o tempo e a melhor forma de integração do “tótó”, agora chamam de “Bulling” e é noticia de abertura nos telejornais! Mas no fundo gostávamos do “tótó” e éramos amigos dele de uma forma que ele não entendia!
No meu tempo é que era!

As brincadeiras eram na rua com os nossos amigos reais. Durante anos não soube o que era ter o corpo sem feridas, principalmente por causa das futeboladas nas ruas de paralelo, onde as balizas eram duas pedras. Esta brincadeira fez-nos desenvolver capacidades visuais tremendas, semelhantes às do Robocop. Num remate a estas balizas de duas pedras, virtualmente víamos claramente postes e uma trave, e quando o adversário dizia “É golo”, com certeza conseguíamos contrapor dizendo “A mim não me enganas, foi ao poste!” ou “Passou por cima da trave!”…sem discussão o jogo continuava! Nessa altura tínhamos uma arma de eleição, a fisga, que nos tempos atuais se equipara a uma 6.35. A única diferença é que a fisga não matava…mas assustava! Hoje em dia os miúdos só jogam se o campo for relvado e se os pais os transportarem até lá e quando fazem um “dói-dói”, admirados perguntam, “O que é isto vermelho?”. Sou da geração Tom Sawyer e levar uma criança de hoje à criancice dos anos 80, seria o mesmo que levá-lo a um treino dos Comandos. O que no passado era o crescimento normal de uma criança, atualmente são as razões para tirar um filho aos pais!
No meu tempo é que era!

Na pré-adolescência apareceu o ZX Spectrum, e habituámos-nos a esperar às meias horas que o computador carregasse o jogo. Na mesma altura apercebemos-nos que algo de bizarro mas apetecível acontecia com as nossas amiguinhas, quase ao ponto de pensarmos em trocar um jogo de futebol para ficarmos com elas. Seus corpos ganhavam formas e já começavam a ser “chatinhas… Fugíamos feitos uns loucos quando apalpávamos partes delas, que não existiam no mês anterior!
Atualmente, durante o mesmo período de tempo, em que esperávamos que o Spectrum carregasse um jogo, os miúdos nas Playsation e PSP provocam 7 holocaustos e ainda não sabem que as raparigas são diferentes dos rapazes!
No meu tempo é que era!

A adolescência, dos agora trintões, era muito ocupada com as mulheres, pelo menos assim queríamos…não havia telemóveis e existia o compromisso. Podia conhecer hoje uma”menina” de Braga e combinar um cafézinho daqui a 4 dias, no café “Central”, e à hora aparecíamos no sítio combinado, ao contrário dos adolescentes de hoje que, com as facilidades de comunicação, desmarcam encontros 5 minutos antes de acontecerem e encontram-se em casa, cada um na sua, e convivem ao computador enquanto apalpam… um écran…Abri os olhos rapazes!!!
Sou do tempo em que se escrevia cartas e postais e ficava duas semanas à espera de resposta, quando hoje tudo está ao alcance de uma mensagem por telemóvel ou computador.
Para mim, a maior revolução não foi o 25 de Abril nem a Perestroika, foi o aparecimento do “Correio Azul”, que encurtou o tempo de espera para uma semana e em alguns casos para 3 dias, caso “ela” disponibilizasse mais uns escudos para igualmente responder em “Correio Azul”! Fui arrastado para as novas tecnologias para não me perder no tempo, mas tudo é tão presente que sinto que o passado foi na semana passada e tudo mudou na segunda-feira! Ainda me sinto com um pé no domingo e não quero que de lá saia, não quero perder o passado, ajuda-me a entender as mesmas coisas de forma diferente!

No meu tempo é que era…ou não!  

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Bandeira ao contrário!


A Constituição é clara quanto há penalização das pessoas e instituições, pelo desrespeito dos símbolos e Bandeira nacionais.
O desconhecimento desta alínea faz com que as pessoas tenham comentários jucosos e injustos sobre algumas personalidades, principalmente quando dizem que parece que não temos Presidente da República ou se o temos é ausente…ele não aparece, não fala, não vai a festas, não telefona,…!
A estas pessoas, a quem eu chamo de ignorantes, quando têm a sorte de se cruzarem em conversa comigo, rapidamente esclareço:
- O Presidente não pode falar, está preso! Içam a bandeira ao contrário e dá nisto!
- E o Presidente da Câmara de Lisboa, não devia estar também?! -  perguntam.
- Não, esse não! Esse senhor é boa pessoa! – respondo e prossigo – O Toninho Costa, para poupar os contribuintes de Lisboa da conta da lavandaria, pediu ao senhor Tavares, funcionário da Câmara, para levar a Bandeira Nacional para casa e a sua Maria lavou-A e dobrou-A!
- E então! O Toninho devia ser preso! – insistem, “ignorantemente”.
- Nããããão!!! Presos estão o PR, o Sr. Tavares e a Dona Maria! O Toninho Costa cumpriu a sua parte no castigo, que foi insultar o Sr. Tavares e a Dona Maria, numa visita à prisão! – respondo.
Não gostei de ver a bandeira içada ao contrário, mas gostava de ver o país do avesso. Não confundir esta frase com a vontade de uma revolução armada ou violenta, mas sim com uma revolução nos comportamentos:
- Na Assembleia da República, em vez dos insultos habituais e arremesso de pedras uns aos outros enquanto todos se abrigam em telhados de vidro, gostava que o discurso fosse outro, ao estilo bem-educado e colaboracionista: “Ó Sr. Deputado do partido que não aprecio, você é uma excelente pessoa, mas discordo do que disse, mas estou disposto e disponível, para em conjunto, vermos a melhor solução para os portugueses!
- Na estrada, estarmos atentos aos outros e não atropelarmos a velhinha que já está no meio da estrada, porque temos a razão de ela estar fora da passadeira!
- Na amizade, sermos sinceros, sem ser brutos, e se gostamos da mesma miúda, ela que arranje outro! Nós vamos beber umas cervejolas e miúdas para nos apaixonarmos há muitas!
- No futebol, se o árbitro marca de forma escandalosa um penalty que não existe, a razão não se dever a suborno mas sim à plena sensação de que estava a ajuizar bem, e com chave de ouro, ver as claques a entoar cânticos de apoio ao juiz, do estilo: “Árbitro fofinho, olé! Para a próxima vês melhor, olé, olé…!”
- Nos relacionamentos, sentirmos-nos bem, porque os outros estão bem! Isto é um sinal da descoberta da felicidade de dar…!
- Nos negócios, a “palavra de honra” ser a mais importante “assinatura”, mais valiosa do que as leis!
- No trabalho, fazer por merecer, em vez de pedir primeiro para ver se fazemos a seguir!
-Na Justiça, defender-se a vítima em vez do ladrãozinho que assaltou a casa e cortou a mãozinha ao partir o vidro, porque a vítima é cuidadosa e trancou a porta e janelas e propositadamente dificultou o assalto!!!

Estas coisas, em alguns países aplicam-se, mas no nosso…!!!
Há pouquíssimo tempo num café, na mesa ao lado onde estava sentado, um indivíduo contava aos outros que tinha feito uma vigarice e o aldrabado caiu como um “pato”, acreditando-se na palavra do aldrabão! A reação de quem ouvia foi “És o maior, és mesmo fino!”. Assisti ao vivo e gratuitamente à glorificação do “chico espertismo” e fiquei de tal forma embriagado com a cena que no fim exclamei “Amén!”.
Cheguei novamente à conclusão de que vivemos num país infestado de finórios e golpistas, e é desta linhagem que descende a classe política…os outros, que são honestos e acreditam na palavra do seu semelhante, são os “patos!

Nós não somo vítimas, somos cúmplices, em medidas diferentes, da bandeira ter sido hasteada ao contrário! 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Gaspar é Deus??!!


E Deus criou o céu, a terra, a luz, o mar, a noite, o dia, a lua, o sol, as criaturas e depois, do pó criou o homem à sua imagem…Deus olhava para a sua criação e via-a perfeita! O homem foi colocado no “Éden”, um jardim no oriente com toda a espécie de árvores de fruto para seu alimento.
Num determinado dia, Deus, certamente aborrecido sem ter nada que fazer, aproveitou o sono profundo do homem, e da sua costela criou a mulher. Esta atitude ao estilo “TSU” iria trazer consequências imprevisíveis, pondo em causa o monoteísmo!
O homem acorda e vê, sentado a olhar para ele, um ser semelhante, mas com duas elevações no peito e sem pénis, algo que ele possuía e que até aquele momento apenas lhe servia para urinar.
Deus disse, “Adão, esta é a Eva e está aqui para te servir! Lembrai-vos, podeis comer de tudo, menos daquela árvore, a árvore do conhecimento!”.
Como já não estavam sós, Adão e Eva colocaram umas folhas nas partes íntimas da marca “Parra”, que daria origem a “Prada”, a mais antiga marca da humanidade, com patente registada em Génesis 1:1, e assumem um relacionamento amoroso, dando origem à segunda mais antiga atividade empresarial, a família! Dizer que a prostituição é a mais antiga, é um embuste, pela clara falta de clientela!
Ainda sem contas para pagar e mesmo já tendo ouvido do próprio Deus, Adão alertava Eva todos os dias, “Miúda, lembra-te, não comas daquela árvore!”. “Que chato, eu sei!”, respondia ela!
Poucos dias depois, ao passar próximo da árvore do conhecimento, Adão vê Eva a comer uma maça!
- Nãããão! Sua louca, com tanta árvore com frutos, tinhas que vir a esta?!
- Apeteceu-me! O que é que querias?
- Que comesse das outras, menos desta! – responde Adão.
- Olha, não sei, apeteceu-me desta!!! – contra responde Eva.
Esta é a mais antiga caraterística genética da humanidade, que ainda hoje permanece imutável nas mulheres! O que mudou foi a árvore e a maçã, tendo sido substituídas pelas sapatarias e pelo novo par de botas, a casa das malas e a nova “Louis Vuitton”,…!
Deus expulsou-a do Paraíso pelo erro e Adão levou por tabela. Ao ver esta injustiça, Deus pensou melhor e decidiu castigar um pouco mais a Eva aplicando-lhe a menstruação. Situação desagradável para ela durante uma semana, e desgastante para o Adão durante três; a semana antes do periodo em que Eva começa a ficar chata, a semana do periodo, por razões óbvias e a semana posterior, simplesmente porque teve o periodo!!! Vá-se lá entender a Eva e Deus…e mais uma vez o Adão leva por tabela!
Deus já estava a meter um pouco os pés pelas mãos e decide então criar o Inferno, colocando como gerente o seu anjo caido em desgraça, o Diabo…agora não iria falhar, só quem pecasse iria lá parar! Um a um, os políticos começaram a lá cair. Se o Inferno e o Céu fossem estabelecimentos de diversão noturna, o Inferno seria a discoteca que estava a dar…mas os políticos como conheciam o porteiro, conseguiam sair! Azar!
Mais uma vez a medida de Deus não resultou e o inferno é agora cada vez mais a vida no país do Gaspar. País onde os portugueses abriram as portas do “Paraíso” à classe política e por causa destes, o “Adão” continua a levar por tabela!
Apesar de tudo, a Mulher, foi a melhor criação de Alguém! Mulher é mãe, Mulher é companheira, já Gaspar é…é…é…é…é…Gaspar é…é…é…Gaspar é…ah, ah, ah, ah…é, é,…

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Alteralismo!


Há alguns anos atrás foram editados alguns livros de auto ajuda, que coincidiu com o período em que estive divorciado. Não foi a leitura de nenhum desses livros que me ajudou a divorciar, mas um deles, quiçá o mais famoso, que comprei e depois de ler verifiquei que foi um engano, serviu de ótima prenda para uma amiga desesperada…eu despachei o livro e ela ficou impressionada, pensando que sou uma pessoa sensível à natureza feminina!
Este livro chama-se “O Segredo”, com muitas páginas que se resumem ao seguinte: Não é preciso agir, apenas pensar convictamente e insistentemente no que se quer. Essa vontade é transmitida ao universo e em troca recebemos a concretização do desejo! Neste ritual há uma regra de ouro: nunca pensar no “não” nos nossos desejos!
Discordo completamente!
Neste período, encontrava-me amiúde, no café, com dois bons amigos, que para não serem identificados vou tratá-los com os nomes alterados, são o Tóó e o ZéTóó. Tínhamos conversas animadas e entusiastas. Quem olhasse para nós, pela pinta, pensava, “Estão a falar de miúdas!”…em 98% dos casos tinham razão! E nos 2% que sobravam, quando entrava uma miúda gira, havia pareceres!
Basicamente as conversas pareciam um jogo de futebol português, muito pontapé na bola e pouco tempo útil de jogo! Mas o pouco que havia entusiasmava-nos e era o que fazia os nossos encontros diferentes!
Eu, o Tóó e o ZéTóó, éramos (e somos), pessoas de agir, mas na altura estávamos em estados de maturação e consciência diferentes. O Tóó e o ZéTóó, tinham um primeirinha muito boa, mas a custo metiam a segunda, quanto a mim, talvez pelo divórcio recente, ia metendo as mudanças até me “enfaixar”!
Numa dessas conversas falávamos na influência do meio e dos outros em nós mesmos, mas com segurança afirmávamos que tínhamos de ser o agente principal das nossa vidas! Rapidamente chegámos à conclusão que desde a existência da civilização, muita gente falou e escreveu sobre isto…mas não sabíamos o que lhe chamaram!
Numa mesa de café nasceu o “ALTERALISMO”!
Eu, o Tóó e o ZéTóó, criámos algo que sempre existiu, mas não tinha nome…ou se tinha, desconhecíamos!
Após essa descoberta, no aniversário do Tóó, num restaurante do Porto, com cerca de trinta convidados, o aniversariante, sem aviso prévio, chama-me para declarar ao mundo o “ALTERALISMO”! Tóó olhava para mim como o homem de ação, o “James Bond” do “ALTERALISMO”!
O “ALTERALISMO” tal como “O Segredo”, poderia ser editado em livro com 200 páginas, mas também se resume a meia dúzia de ideias, expostas nessa noite memorável…para o aniversariante (começou a namorar)!
Expliquei que não nascemos etiquetados com a história da nossa vida. Temos de ser o motor dela mesma e assumir o papel principal, avançar e arriscar as portas entreabertas e vencer o medo do caminho estreito! Mesmo quando o que queremos está para além de uma parede de betão e nos “esborrachamos”, voltamos para trás, tristes, mas quem sabe se não ficaram fendas e a parede de betão um dia vem abaixo!
Toda a gente me ouvia com atenção tal, que enquanto discursava, já pensava em criar uma seita e pedir o dízimo! Nessa noite arranjámos alguns seguidores na esperança de que também eles nos ajudassem a entender isso do “ALTERALISMO”!
Entre esta criação (que já existia!) e o “Segredo”, ou sou ALTERALISTA!   

Antonio Machado, poeta sevilhano, do séc. XIX, escreveu, “Caminhante, o caminho não existe, faz-se o caminho ao andar!”. Eu, o Tóó e o ZéTóó, criámos o que já existia, o “ALTERALISMO”!

sábado, 27 de outubro de 2012

Sábado, dia porreiro!


Neste texto, vou utilizar a palavra “cócó” em detrimento da palavra "merda". Significam o mesmo, mas "merda" pode ferir as sensibilidades “cócó”!
Numa vida feita maioritariamente de obrigações e alguns fretes, elejo o sábado como o dia “porreiro”. É neste dia que consigo pôr de lado as atividades obrigatórias e os fretes e convivo com quem quero, e comigo mesmo, e tenho mais tempo para fazer o que realmente gosto…à exceção de alguns afazeres domésticos, que garantem a estabilidade da coligação marido/mulher!
Enquanto há pessoas que para se sentirem bem têm que fazer coisas extraordinárias e várias vezes (portanto nunca ou poucas vezes estão bem), eu tenho a sorte, nestes tempos de crise, de gostar muito de desempenhar atividades gratuitas ou baratuchas, como escrever, lêr (e peço alguns livros emprestados), jogar à bola com o mesmo grupo de amigos há anos, andar de bicicleta,… e de sonhar, conseguir fechar os olhos e viajar no tempo e no espaço! Mas depois abri-los e voltar à realidade.
Este sábado acordou solarengo e eu quase acordei com ele, cedo. Depois de tomar o pequeno almoço, que me garante a sustentação física, e depois de estender alguma roupa, que garante a harmonia no lar e uma refeição quente, é altura do meu passeio com a Carolina, a minha cadela, adoptada numa associação de proteção de animais.
Neste passeio, como de costume, tudo corria bem e como o costume a Carolina fazia cócó e chichi (é verdade, em vez de mijar vou dizer “chichi”)  e como é costume, passeava-me com grande classe!
Numa das pausas da Carolina, para cheirar mais não sei o quê, olho para o lado a ver quem passa. Quando os meus olhos retornam à cadela, ela já não estava a cheirar nada, mas sim a lamber o “cócó” de outro cão! Foi o horror!!!
Por mais liberal que possa ser quanto aos comportamentos caninos e humanos, não me choca ver um cão a sodomizar outro, ver uma matilha numa ramboiada sexual ou até uma cadela com cio a oferecer-se a qualquer cão…mas a minha Carolina a lamber “cócó”, NÃO!
Em choque, o passeio foi encurtado e tomei as rédeas do mesmo e fomos directos para casa!
Em vez de me deitar, sentei-me, porque já estava penteado e custava-me a aceitar a lambidela da Carolina no “cócó”, como deve custar a um pai ouvir da filha de treze anos que está grávida de um puto pobre, ou como me custa desfazer a barba (ainda falam as mulheres de depilação!)! O sábado, o dia porreiro, estava estragado!
Decidi sair de casa e caminhar…fui ao café!
Desfolhava o jornal e parei na notícia que falava no caso do virus de Dengue na Madeira e exclamei:
- Poça, se isto chega aqui?!
A Dona Mariazinha, que estava sentada na mesa ao lado, ripostou:
- Oh Zé, que se lixe o Dengue, pior é se chega ao continente o virus Alberto João!
Esta capacidade muito portuguesa de relativizar as coisas, de que pode sempre acontecer algo pior, de que há sempre alguém a passar por dramas maiores, da-nos um aconchego, um quentinho fofinho na barriga!
A Dona Mariazinha, sem saber, recuperou-me o dia com a sua observação. Fui para casa a pensar, “A Carolina lambeu cócó, mas pior seria ela engravidar estando esterilizada!”.
O sábado voltou a ser um dia porreiro!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sportinguista e português, o fado!


Há decisões ou imposições na vida que marcam o feitio de uma pessoa, ser sportinguista é uma delas! Eu sou sportinguista…e por estranho que pareça e por mais motivos que nós leões tenhamos, não mudamos de clube, mesmo que ele acabe! O Sporting arrisca-se no futuro a ser o clube não clube com mais adeptos!
Apesar de ter 38 anos, para entendermos o meu sportinguismo, temos que recuar largas décadas e perceber que um jovem, de nome Augusto, pertencente a uma família numerosa (9 pessoas) da Trofa e todas adeptas do FCP, saiu sportinguista!
Hoje, Augusto, com 66 anos desculpa-se com os “cinco violinos” e a delícia que era ver a equipa jogar, afinada como uma orquestra…e um pormenor de classe, ganhava!
Todas estas histórias me soam estranhas e a custo aceito que falamos da mesma equipa, que cada vez mais se afunda…faz-me lembrar o meu país!
Em tempos o Sporting ganhava e os pobres, apesar dos tempos difíceis, tinham casa, uma horta e uma vaca ou ovelha! Hoje o Sporting deprime, como o país, sem solução e sem gente capaz, e onde os pobres, cada vez em maior número, têm um terraço em cimento, que nada produz, e um carro parado, sem dinheiro para o combustível!
O jovem Augusto é o meu pai e pregou-me uma injeção de sportinguismo à nascença e outra ao meu irmão, apesar de ele aos 6 anos se ter vendido por um corneto e mudado para o FCP, doença que durou até aos 12…mas foi mais vezes campeão nesses 6 anos de adepto do FCP, do que em 30 anos como leão!
Acham-me calmo e sereno, pessoa que ouve, que expõe a sua opinião e aceita a voz discordante. Mas que raio, sou eu e quase todos os sportinguista que conheço, não só fruto de uma educação cuidada, mas por gostarmos tanto de um clube que nada ganha (os torneios pré-temporada não contam)…não nos podemos esticar muito! É como gostar deste país a ser esfrangalhado, há 38 anos, por essa classe nova, a classe política!
Mas o que nós leões queremos é gritar, discutir com razão e dizer “Somos os maiores!”, mas quando penso que é o mesmo que dizer aos finlandeses “Somos o melhor povo do mundo, com os políticos mais sérios e competentes!”, chego à conclusão que o melhor é ser moderado! E assim somos os sportinguistas, reconhecidos por todos como moderados, imparciais e os melhores adeptos…e somos, mas mal dirigidos!
Muitas vezes, às escondidas vejo “O leão da Estrela”, único sítio onde vejo o Sporting a ganhar ao FCP e me dá motivação para dar ao meu sobrinho, de 2 anos e meio, mais um cachecol ou outro leão e juntos repetimos “Sporting!”…mas depois pergunto-me “Será que estou a ser um bom tio?!”, quase como a perguntar se será responsável ter filhos neste país!
A conclusão a que chego é sempre a mesma, um dia quero gritar e discutir que o Sporting é o maior! Quero um dia dizer que Portugal é o melhor país para se viver!
Conclusão, acho que vou ver o Sporting a ganhar um campeonato primeiro!